Redação Culturize-se
A 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa nesta quarta-feira (9) e se estenderá até o domingo (13) trazendo uma programação rica em debates, reflexões e homenagens literárias. O evento, que se consolidou como a principal celebração literária do Brasil, tem como homenageado deste ano o escritor, jornalista e dramaturgo Paulo Barreto, mais conhecido pelo pseudônimo João do Rio. Um dos cronistas mais importantes do início do século XX, João do Rio revolucionou o jornalismo com seu olhar atento às transformações culturais e sociais do Rio de Janeiro.
A curadoria desta edição é de Ana Lima Cecilio, que propôs uma abordagem focada em temas contemporâneos e urgentes. Entre os debates estão questões como as mudanças climáticas, a censura, o racismo, as guerras no Oriente Médio e a violência contra os povos indígenas. Ana Cecilio, que tem mais de 20 anos de experiência no mundo editorial, vê a literatura como uma ferramenta essencial para entender o caos do mundo atual. “A literatura e essas formas de artes verbais são essenciais para ajudar a gente a organizar o mundo”, disse ela em entrevista à Agência Brasil. Essa perspectiva está presente em várias das mesas da Flip deste ano, que busca promover um espaço de reflexão e crítica social.
A mesa “Não Existe Mais Lá”, marcada para sexta-feira (11), traz dois autores cujas vivências estão ligadas diretamente a tragédias contemporâneas. Atef Abu Saif, que estava em Gaza durante os bombardeios israelenses, e Julia Dantas, que viu sua casa em Porto Alegre ser destruída pelas enchentes deste ano, irão compartilhar suas experiências sobre as consequências devastadoras de ações humanas que poderiam ter sido evitadas. Essa conexão entre eventos globais e locais reforça a proposta da Flip de discutir os impactos das crises humanitárias e ambientais no cotidiano de diferentes regiões do mundo.

Outro destaque da programação é a mesa que contará com o youtuber Felipe Neto, que lança seu livro “Como Enfrentar o Ódio”. Ele divide o debate com a jornalista Patrícia Campos Mello na tarde de sexta-feira (11). Este tema é central nas discussões sobre o papel das redes sociais na propagação de discursos de ódio, especialmente em contextos políticos polarizados. “O ódio nas redes é uma discussão muito contemporânea. Estamos em plena eleição e há duas ou três eleições a gente entende o poder de mobilização da internet, dos grupos de ódio e da polarização”, afirmou Ana Cecilio.
Multiplicidade de perspectivas
Além das mesas que discutem questões atuais, a Flip também inova ao trazer novos formatos de apresentação, como a gravação ao vivo de um episódio do podcast “Rádio Novelo Apresenta”, prevista para a noite de sexta-feira. O evento marca a primeira vez que um podcast é produzido ao vivo durante a Flip, refletindo a busca da curadoria por formatos mais dinâmicos e acessíveis para o público.
Outro ponto alto será a participação de autores internacionais de renome, como o senegalês Mohamed Mbougar Sarr, autor de “A Mais Recôndita Memória dos Homens”, que participará de uma mesa com o escritor brasileiro Jefferson Tenório no sábado (12). Na mesma noite, o francês Édouard Louis, conhecido por obras como “Monique se Liberta” e “Quem Matou Meu Pai”, terá uma mesa solo, onde abordará temas como a classe social, a violência familiar e o preconceito. A presença de escritores de diversas partes do mundo reforça a pluralidade de vozes que caracteriza a Flip.
A homenagem ao grande cronista João do Rio também ganha destaque na Flip deste ano. Conhecido por seu olhar perspicaz sobre a vida urbana no Rio de Janeiro e pelas crônicas que retratavam as desigualdades e contradições da cidade, João do Rio foi um pioneiro na documentação literária das transformações sociais e culturais do início do século XX. Além de escritor e jornalista, foi o primeiro a adotar uma abordagem mais sensível e crítica para reportar a vida nas favelas cariocas, registrando as vozes que não tinham espaço na imprensa tradicional. Como parte dessa homenagem, a Flip abrirá sua programação oficial com uma conferência intitulada “As ruas têm alma: João do Rio, o convidado do sereno”, apresentada pelo historiador Luiz Antônio Simas, que discutirá o legado do autor para a cultura e o jornalismo brasileiro.
A escolha dos temas deste ano, alinhada com a homenagem a João do Rio, reflete o compromisso do evento em promover um debate plural e relevante. Para quem não pode estar presente em Paraty, o canal Arte1 oferecerá uma cobertura completa, transmitindo as mesas ao vivo e proporcionando a oportunidade de acompanhar o evento diretamente de casa.
Criada em 2003, a Flip é reconhecida como Patrimônio Histórico Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro e, ao longo dos anos, tem se consolidado como um importante ponto de encontro para autores, leitores e entusiastas da literatura. Além das mesas de debate, a festa oferece uma série de atividades culturais paralelas, como oficinas de grafismo e discussões sobre jornalismo literário, sempre com o objetivo de promover o diálogo e a formação de novos leitores.