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O derretimento do Globoplay

Reinaldo Glioche

Menos de 10 anos depois de sua inauguração, o Globoplay, outrora apontado como grande rival da Netflix no Brasil, encolheu e já contempla o fim. As trombetas do apocalipse se fazem sentir quando o streaming gratuito do SBT, lançado há algumas semanas, é apontado por parte do público e crítica como uma plataforma de mais qualidade, da navegação ao conteúdo.

O Globoplay viu escassear os contratos de licenciamento que conseguiu amealhar nos cinco primeiros anos de operação em virtude da disposição dos estúdios de cinema lançarem suas próprias plataformas. Até a Universal, a parceria mais fiel, lançou o pouco comentado Universal+ e começou a tirar o time do campo da plataforma da Globo. O estúdio era o único que ainda garantia uma janela de exclusividade ao Telecine. Não mais. Desde maio, a Amazon goza da mesma janela do streaming de filmes da Globo.

Aliás, a morte lenta do Telecine e a recusa da Globo em fundi-lo de vez ao Globoplay contribuem para esse derretimento da plataforma. Há uma miscelânia. Assinantes assistem conteúdo da Globo com anúncio, o que deveria acontecer apenas para quem tem uma conta gratuita, e o conteúdo do Telecine e do Canais Globosat são dispostos no catálogo para aparentar volume e gera irritação nos assinantes do “pacote básico” do Globoplay que percebem não ter acesso a grande parte do conteúdo do catálogo.

O Telecine, na régua do custo e benefício, é das maiores atrocidades no streaming brasileiro com um preço premium por filmes antigos e, em sua grande maioria, disponíveis em outras plataformas. A sacada de colocar os canais Globosat no portfólio do Globoplay seria produtiva se estivesse incluído na assinatura, mas não cobrar uma assinatura adicional criaria problemas com as operadoras de TV que comercializam os canais Globosat. Do jeito que está, porém, parece uma dupla via de desvalorização dos produtos.

Globoplay

Conteúdo original de baixa qualidade

Não bastasse essa miopia na gestão do produto em face do acirramento do mercado, o Globoplay parece gozar de má sorte em um dos eixos que era sua mais-valia: os conteúdos originais. Embora as séries documentais, como “Vale o Escrito” e “Galvão: Olha o Que Ele fez”, gerem boa repercussão, as ficções parecem à deriva. Prova é a 2ª temporada de “Os Outros”. O programa, talvez o único ficcional de bom nível da plataforma em 2023, voltou com um segundo ciclo de episódios pavoroso. A segunda temporada tardia de “Justiça” foi outra decepção, assim como a horrenda série “O Jogo que Mudou a História”.

O novo responsável pela gestão do Globoplay, Manuel Belmar, tem como principal missão equilibrar as contas da plataforma. Belmar acumula dois cargos: diretor de Finanças, Jurídico e Infraestrutura, além de liderar os Produtos Digitais e Canais Pagos. Ele irá fixar critérios cada vez mais precisos e elevados para aprovar projetos – o que deve render menos conteúdos originais na plataforma.

Resta ao Globoplay intensificar a estratégia de lançar novelas e minisséries antigas da Globo como novidades no catálogo, outra tática questionável já que, embora agrade o público entusiasta de novelas, aliena todo um público que não faz questão de novelas no portfólio. Mesmo nessa seara, com o avanço de Netflix, Disney+ e MAX no formato folhetim, a vantagem do Globoplay pode erodir.

Uma alternativa para a Globo, que pode contribuir para afundar mais o Globoplay, é licenciar algumas novelas para concorrentes. Algo como a HBO fez com séries como “Six Feet Under” e “True Blood”. Seria uma forma de ganhar dinheiro com o produto, saciar o interesse da concorrência e continuar colocando na praça as novelas da casa.

Como pode se observar, do acirramento do mercado às respostas da Globo, e do Globoplay, às circunstâncias, o horizonte não parece límpido para a plataforma de streaming da Globo.

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