Reinaldo Glioche
O filme independente de Celine Song, um dos darlings da temporada, tem diminutas chances de ganhar o Oscar, mas “Vidas Passadas” engrossa uma lista pouco comentada, mas muito qualificada no Oscar, a dos romances etéreos.
O romance reconhecidamente não é um dos gêneros favoritos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, embora tenha presença na categoria principal mais frequente do que gêneros como terror e ficção científica.
Ainda assim, o Oscar historicamente costuma sublinhar melodramas como “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005) e “Entre Dois Amores” (1985), épicos como “O Paciente Inglês” (1996) e “Titanic” (1997) ou comédias como “Shakespeare Apaixonado” (1998) e “Uma Linda Mulher” (1990).
Romances etéreos, que não necessariamente ostentam uma lógica hollywoodiana sempre surgiram de quando em quando no Oscar. Foram os casos de “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (1989), “Antes do Pôr-do-Sol” (2004) e “A Forma da Água” (2017) . A tendência se avolumou nas últimas décadas e deu início às vitórias em categorias nobres, como os prêmios de roteiro para “Encontros e Desencontros” (2003) e “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004).
Mais recentemente, filmes como “O Lado Bom da Vida” (2012), “La La Land – Cantando Estações” (2016), “Ela” (2013) e “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017) reclamaram o protagonismo no Oscar ao observar o romance e as relações afetivas como um meio, parte de uma jornada e não o fim. São filmes que fluem por diferentes gêneros e, ainda assim, são incrivelmente românticos.
“Vidas Passadas”, com suas ricas e admiráveis peculiaridades, é a mais nova adição a essa seleta lista. O filme de Song rejeita o determinismo das convenções hollywoodianas e opta por um traçado mais suave no desenho de personagens que buscam o amor, mas também a autoafirmação. Que são nostálgicas e inseguras, mas não são definidas por essas características.
A volatilidade das circunstâncias da vida são muito bem adornadas por esses filmes e é salutar que o Oscar se abra cada vez mais a eles e reconheça a grandeza do ordinário, como no caso da imigrante coreana dividida entre o amor da infância e toda a nostalgia que ele carrega e a vida que construiu nos EUA, com suas possibilidades, conquistas e dissabores.