Por Reinaldo Glioche
Quando do anúncio dos indicados ao Grammy 2024, Culturize-se registrou que a principal premiação da música havia se rendido de vez ao domínio feminino. Dito e feito. A cerimônia deste domingo (4) consagrou um número recorde de mulheres, inclusive nas categorias principais, pulverizadas entre Taylor Swift, Miley Cyrus, Billie Eilish e Victoria Monet. SZA, Kylie Minogue, Tyla, Boygenius e Phoebe Bridgers foram outras artistas premiadas na noite.
A tendência não é exatamente nova, mas sua expansão para categorias satélites na premiação indica que o Grammy foi forçado pelo curso dos acontecimentos a superar sua resistência a premiar mulheres com frequência em suas principais categorias. Desde 2008, oito vezes artistas femininas ganharam o prêmio de álbum do ano. Quatro dessas vezes a vencedora foi Taylor Swift, que quebrou um recorde em 2024 tornando-se a primeira artista a ganhar mais de três vezes na categoria.
Taylor Swift já seria a grande vencedora da noite por qualquer baliza, mas mostrou porque é a grande artista da música no mundo hoje – a maior turnê em renda ela já tem – ao sequestrar o Grammy para anunciar seu novo disco de inéditas, “The Tortured Poets Department”, que sai em 19 de abril.
Esse conjunto de circunstâncias levou Jay-Z, após receber um prêmio por seu impacto global na música, a criticar a entidade que outorga o Grammy por nunca ter premiado sua mulher, Beyoncé, com o troféu de Álbum do Ano. “Ela tem mais Grammys do que qualquer um, o álbum número 1 do ano. Então, mesmo por essa métrica, isso não faz sentido”, criticou Jaz-Z, com quem Beyoncé é casada desde 2008. “Pensem, maior vencedora de Grammys e nunca ganhou Álbum do Ano. Isso não funciona”, afirmou.
A indignação é compreensível. A dimensão de Beyoncé é gigante dentro dos próprios parâmetros do Grammy, como atesta seu recorde de troféus, mas a escolha de álbum do ano não é uma ciência exata e em 2024 tivemos artistas femininas que lotam estádios como Miley Cyrus e Kylie Minogue ganhando seus primeiros Grammys, mesmo com 20 anos de estrada. Nesse contexto, a fala de Jay-Z, parece, além de elitista, calcada em uma lógica pedestre de emular a raça como fator. Dos últimos 10 vitoriosos em álbum do ano, cinco eram artistas negros. Em 2024, Victoria Monet e SZA, artistas negras, foram as mais indicadas e vitoriosas.
Essa talvez seja uma reação biliar ao domínio cada vez maior de Taylor Swift, que dominou até mesmo a NFL, a qual Jay-Z mantém uma relação comercial e escala os artistas que performam no show do intervalo no Super Bowl.
Fato é que o Grammy, em 2024, entre escolhas óbvias, preguiçosas e merecidas, se viu na contingência de reforçar paradigmas. Miley Cyrus foi a grande rockstar do ano passado, Billie Eilish é a artista mais interessante e Taylor Swift dominou a música e a cultura pop. A Jay-Z, restou o desabafo.