Pfizer mira obesidade como alvo após capitalizar com Covid-19

Farmacêutica que tem um histórico de inovações medicinais tenta fazer do combate à obesidade uma nova corrida farmacológica. A Pfizer já fez algo semelhante com a impotência sexual masculina

Redação Culturize-se

Para as empresas farmacêuticas, crises de saúde são oportunidades. E não há crise de saúde mais presente e desafiadora do que a obesidade. A Pfizer, que após uma valorização acionária recorde na esteira da Covid-19,quando foi uma das precursoras na cobertura vacinal, está engajada em desenvolver fármacos para o combate à obesidade. O desafio, porém, está sendo mais intenso e multifacetado do que esperado.

Pfizer
Foto: Reprodução/Internet

A gigante farmacêutica deu um passo atrás ao anunciar que estava encerrando os estudos da fase 3 para sua versão de ingestão oral do danuglipron, seu candidato a medicamento para perda de peso administrado duas vezes ao dia. As ações da Pfizer fecharam em baixa de 5,1% na quinta-feira (30) e agora estão mais de 50% abaixo do pico, quando a vacina COVID da empresa impulsionou a receita a alturas recordes.

Este é o segundo revés da Pfizer nesse campo em 2023, tendo abandonado o desenvolvimento do lotiglipron, um comprimido experimental para obesidade e diabetes, em junho.

A Pfizer afirmou que um ensaio clínico do danuglipron mostrou que a formulação era eficaz na perda de peso, embora os resultados fossem menores do que os vistos em ensaios de medicamentos rivais semelhantes. O problema maior foram as altas taxas de efeitos colaterais. Embora fossem “leves”, levaram mais da metade dos pacientes no ensaio a abandonar o estudo. A Pfizer ainda acredita que há um futuro para o danuglipron, apenas em uma formulação diferente que espera que seja mais tolerável.

“Acreditamos que uma formulação aprimorada de uma vez por dia poderia desempenhar um papel importante no paradigma de tratamento da obesidade, e concentraremos nossos esforços em coletar dados para entender seu potencial perfil”, disse Mikael Dolsten, diretor científico da empresa de P&D, em um comunicado.

A Pfizer tenta avançar em um campo de US$ 100 bilhões que tem a dinamarquesa Novo Nordisk como líder em pesquisa e desenvolvimento. A empresa também está desenvolvendo um novo medicamento para a obesidade chamado semaglutida, que é um análogo do GLP-1. O GLP-1, ou péptico similar ao glucagon tipo 1, é um hormônio produzido pelo intestino delgado quando comemos. Ele tem vários efeitos no organismo, incluindo aumento da secreção de insulina, o que ajuda a controlar o açúcar no sangue; aumento da sensação de saciedade, o que ajuda a reduzir a fome; e diminuição do esvaziamento gástrico, o que também ajuda a reduzir a fome.

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A trajetória da Pfizer

A Pfizer entrou no palco das descobertas médicas com sua produção em massa da penicilina na década de 1940. Como o primeiro medicamento antibiótico eficaz no tratamento de infecções bacterianas, a penicilina revolucionou a medicina e salvou inúmeras vidas. A Pfizer desempenhou um papel crucial na disponibilização desse medicamento para o mundo, ajudando a combater doenças até então consideradas fatais.

A partir dos anos 1970, a Pfizer concentrou esforços na pesquisa cardiovascular, lançando medicamentos inovadores que mudaram a vida de milhões de pessoas. Agentes como o atorvastatina (Lipitor) se tornaram referência no tratamento do colesterol elevado, prevenindo doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais. Esses avanços estabeleceram a Pfizer como líder na cardiologia e proporcionaram uma melhora significativa na qualidade de vida de pacientes em todo o mundo.

Nos últimos anos, a Pfizer tem desempenhado um papel vital na pesquisa e desenvolvimento de terapias inovadoras no tratamento do câncer. A descoberta de medicamentos como o palbociclib (Ibrance) e o talazoparibe (Talzenna) têm revolucionado as opções terapêuticas contra o câncer de mama e o câncer de ovário, respectivamente.

Além dos avanços em medicamentos, a Pfizer tem desempenhado um papel crucial no desenvolvimento e produção de vacinas eficazes. Parcerias estratégicas com outras empresas e organizações de saúde têm permitido o desenvolvimento rápido de vacinas contra doenças como a meningite, pneumonia e influenza. Mais recentemente, a Pfizer e a BioNTech desenvolveram uma vacina altamente eficaz contra a COVID-19, que foi fundamental para a humanidade vencer a pandemia.

A descoberta (acidental) do Viagra

Nos anos 1980, a Pfizer estava conduzindo experimentos com um composto chamado sildenafil, inicialmente destinado ao tratamento de angina, uma condição que causa dores no peito devido à redução do fluxo sanguíneo para o coração. O sildenafil, que apresentava propriedades vasodilatadoras, teve um impacto surpreendente nos ensaios clínicos: os participantes relataram efeitos colaterais relacionados à função erétil. Isso levou os pesquisadores a perceberem o potencial do sildenafil como uma terapia para a disfunção erétil.

Em 1998, a Pfizer obteve a aprovação da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) para comercializar o Viagra como um medicamento para tratar a disfunção erétil, tornando-se o primeiro medicamento oral para esse fim. O Viagra rapidamente ganhou popularidade e se tornou um enorme sucesso comercial em todo o mundo, ajudando milhões de homens a superarem a disfunção erétil.

O Viagra teve sua patente original expirada em 2013 nos Estados Unidos, após 15 anos de proteção exclusiva concedida à Pfizer. Isso permitiu que outros fabricantes produzissem medicamentos genéricos contendo sildenafil. A quebra da patente geralmente leva a uma redução nos preços dos medicamentos, tornando-os mais acessíveis à população em geral. É importante destacar que a Pfizer também lançou uma versão genérica do Viagra para competir com os produtos genéricos no mercado.

Em suma, a descoberta do Viagra pela Pfizer foi um acidente feliz durante a pesquisa cardiovascular, e seu subsequente sucesso comercial abriu caminho para um tratamento eficaz e amplamente utilizado para a disfunção erétil.

Cinco medicamentos de destaque da Pfizer

  1. Lipitor (Atorvastatina): Lipitor é um medicamento para redução do colesterol que se tornou um dos produtos mais vendidos da Pfizer. Ele pertence à classe das estatinas e ajuda a diminuir os níveis de colesterol ruim (LDL) e triglicerídeos, enquanto aumenta o colesterol bom (HDL). O Lipitor tem sido amplamente utilizado no tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.
  2. Zoloft (Sertralina): Zoloft é um medicamento antidepressivo e ansiolítico da classe dos Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina (ISRS). Ele é utilizado no tratamento de transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), depressão e transtorno do pânico. O Zoloft tem se mostrado eficaz na estabilização do humor e no alívio dos sintomas associados a esses transtornos mentais.
  3. Chantix (Vareniclina): O Chantix é um medicamento utilizado para ajudar no tratamento da dependência de nicotina. Ele age nos receptores de nicotina no cérebro, bloqueando os efeitos da nicotina e reduzindo os sintomas de abstinência. O Chantix é frequentemente prescrito como parte de programas de cessação tabágica, auxiliando as pessoas na luta contra o vício do tabaco.
  4. Enbrel (Etanercept): O Enbrel é um medicamento imunossupressor utilizado no tratamento de doenças inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide, artrite psoriásica e psoríase. Ele funciona bloqueando ação de uma proteína inflamatória chamada fator de necrose tumoral (TNF), aliviando os sintomas associados a essas condições e ajudando a retardar a progressão da doença.
  5. Geodon (Ziprasidona): O Geodon é um medicamento antipsicótico utilizado no tratamento de transtornos mentais, como esquizofrenia e transtorno bipolar. Ele atua ajudando a restaurar o equilíbrio dos neurotransmissores no cérebro, reduzindo os sintomas psicóticos, maníacos e depressivos associados a esses transtornos.

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