Redação Culturize-se
Hollywood vive de fases e uma das que mais se faz notar atualmente é a de dividir filmes em duas partes. Não é algo exatamente novo – já foi feito em maior ou menor grau em outros períodos sempre com uma perspectiva comercial dominante -, mas impressiona o número de projetos atualmente com essa característica. Além de “Homem-Aranha Através do Aranhaverso” e “Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1”, que estrearam neste ano e terão suas segundas partes lançadas em 2025, temos ainda o faroeste épico de Kevin Costner “Horizon”, o sci-fi de Zack Snyder “Rebel Moon”, “Duna” e “Wicked”, todos sendo lançados nos próximos meses.
Os últimos livros de franquias de sucesso como Harry Potter e Jogos Vorazes foram divididos em dois filmes e, nesses casos, a disposição de esticar a corda e arrecadar mais com essas propriedades intelectuais era indisfarçável. Francis Lawrence, diretor de “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1” (2014) e “Jogos Vorazes: A Esperança – O Final” (2015) admitiu em recente entrevista ter se arrependido da divisão do ato final da saga em dois filmes. “Foi frustrante para a audiência”.
E a autora de “Divergente”, Veronica Roth, cujo livro “Convergente” nunca foi totalmente adaptado após a primeira parte de um filme dividido em duas partes, questionou se a divisão fazia sentido para seu romance. “Dividir coisas em duas partes estava na moda na época. Foi por isso que essa decisão foi tomada”, disse Roth, que afirmou estar em paz com tudo isso.
A desistência de concluir a saga Divergente nos cinemas parecia ter dirimido a disposição dos estúdios em postergar o desfecho de livros e sagas no cinema, até que veio a Marvel com o último ato de sua saga dividida em dois filmes dos vingadores, “Guerra Infinita” (2018) e “Ultimato” (2019). Não à toa, a Paramount anunciou em 2019 que a próxima aventura do agente secreto Ethan Hunt (Tom Cruise) seria dividida em dois filmes.
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O desfecho (será mesmo?) da franquia “Velozes e Furiosos” no cinema será uma longa saga dividida em três filmes, o primeiro foi o capítulo 10. É inegável que a divisão de histórias longas em dois ou mais filmes está na moda, mas há mais riscos inerentes à empreitada do que os estúdios estão dispostos a admitir. E não é preciso conjecturar muito, o próprio passado serve como um bom parâmetro.
A bilheteria do “Acerto de Contas Parte 1”, por exemplo, foi decepcionante e, embora haja outros elementos que contribuam para essa realidade, como o calendário acirrado com Barbenheimer, vale a pena continuar uma trama cujo interesse da audiência ficou abaixo das expectativas? É a outra face da moeda de dividir uma mesma história em dois filmes. Passa por aí, também, a decisão de adiar o lançamento da Parte 2, já gravada, para 2025, embora a justificativa oficial seja o realinhamento do calendário de estreias do estúdio, a Paramount, por conta da greve dos atores.
O caso de “Rebel Moon” é diferente. A Netflix aspira criar uma propriedade intelectual potente com Snyder, com quem mantém uma prolífera parceria comercial. Pode dar errado, claro, mas os riscos são mais controlados do que um lançamento em cinema.