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Polêmicas afligem, mas não minam Feira de Frankfurt

A 75ª edição da Feira de Frankfurt foi afetada pela deflagração do violento conflito entre Israel e Hamas e teve episódios de constrangimento, mas soube superá-los

Redação Culturize-se

A 75ª edição da Feira do Livro de Frankfurt, uma das maiores e mais prestigiadas feiras literárias do mundo, chegou ao fim após uma semana repleta de eventos literários e discussões envolvendo diversos aspectos do mundo editorial. Esta feira, que serve como um termômetro para as tendências do mercado literário global, reuniu um público diversificado de profissionais do setor, autores, editores e entusiastas da leitura.

Um dos painéis mais notáveis desta edição reuniu representantes de editoras independentes da Alemanha, Taiwan, Brasil e África. Eles compartilharam experiências e insights sobre os desafios enfrentados no mundo das pequenas editoras e destacaram a importância da colaboração. O consenso entre os participantes foi claro: unir forças com outras editoras enfrentando situações semelhantes pode fazer toda a diferença no sucesso de empreendimentos menores. A troca de informações e o apoio mútuo foram destacados como estratégias essenciais para prosperar em um mercado editorial altamente competitivo.

Brasil na Feira de Frankfurt
Foto: Reprodução/Apex

Da Alemanha, Tom Kraushaar, diretor editorial da Klett-Cotta, enfatizou a necessidade de construir relacionamentos com editoras internacionais para obter uma visão mais ampla dos diferentes mercados. Na visão dele, as editoras independentes devem trabalhar na construção de suas marcas e identidades únicas, destacando que a personalidade é um dos pontos mais fascinantes das empresas independentes.

De Taiwan, Sharky Chen, fundador da Comma Books, compartilhou sua experiência em um mercado editorial desafiador. Ele ressaltou a importância da colaboração em um ambiente onde a maioria das editoras é composta por equipes reduzidas, com menos de cinco funcionários. Para enfrentar as dificuldades, Chen e seus colegas criaram uma associação de editores independentes, evidenciando o poder da rede para compartilhar informações sobre publicação, gráficas e fornecedores. Ele também mencionou a criatividade para atrair leitores, incluindo clubes do livro, newsletters e eventos.

Sevani Matos, diretora-geral da VR Editora e presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), representando o Brasil, apresentou um panorama do mercado editorial brasileiro. Ela destacou a importância dos programas governamentais para a compra de livros, o papel crescente das redes sociais, particularmente o TikTok, na venda de livros, e a presença marcante da Amazon no país. Além disso, Matos falou sobre a importância das feiras literárias no Brasil e o apoio da CBL a essas iniciativas.

Do Quênia, Otieno Polycarp, da Sol Kids Africa, discutiu a colaboração como um elemento fundamental em seu mercado, onde a preservação da cultura é um desafio essencial. Polycarp publica obras infantis e enfatizou a necessidade de trabalhar com o máximo de editoras independentes e livrarias possível para manter viva a cultura local.

Palestina em foco

No entanto, a Feira de Frankfurt teve seus momentos de controvérsia. O cancelamento de um evento de homenagem à escritora palestina Adania Shibli gerou manifestações públicas de autores e desistências de várias editoras e instituições. Escritores renomados, incluindo ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, assinaram uma carta aberta em protesto contra a decisão de cancelamento, destacando a importância de fornecer espaço para que escritores palestinos compartilharem suas ideias e reflexões na feira.

A Feira também destacou o desafio em relação às bibliotecas públicas. A questão de se há livros suficientes nessas instituições foi debatida, com dados mostrando uma redução no número de obras nas bibliotecas ao longo dos anos. A necessidade de aumentar o investimento em livros, melhorar a curadoria, fornecer informações detalhadas sobre os acervos e buscar maneiras inovadoras de atrair leitores, especialmente crianças, foi enfatizada. Além disso, a importância de entreter o público e investir em tecnologias para facilitar o acesso dos leitores às bibliotecas também foi discutida.

Apesar das tensões geopolíticas, a Feira do Livro de Frankfurt encerrou-se com números impressionantes. Houve um aumento notável no número de visitantes profissionais, com 105 mil profissionais do setor vindos de 130 países. A conferência explorou uma ampla variedade de temas, desde as implicações das alterações climáticas até a influência da inteligência artificial na indústria editorial. Salman Rushdie, vencedor do Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, enfatizou a importância da literatura como um veículo para a tolerância e a abertura.

A Feira também serviu como um palco para importantes negócios no setor editorial, incluindo acordos de publicação com figuras proeminentes como Serena Williams. O Pavilhão de Convidados de Honra, dedicado à Eslovênia, trouxe uma riqueza de eventos culturais e literários e destacou a importância da literatura eslovena no cenário internacional.

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