Longa de Thiago B. Mendonça lança um olhar lúdico para a sétima arte enquanto coteja percalços da vida ao olhar infantil
Por Reinaldo Glioche
Chega aos cinemas brasileiros nesta quinta (5) o delicado “Um Filme de Cinema”, que pelo império do rótulo é um filme infantil, mas na verdade se permite ser muito mais do que isso. A veia experimental do cineasta Thiago B. Mendonça converge diferentes expectativas e faz do longa, misto de ficção e documentário, palco, tese e encontro.
Ao Culturize-se, Mendonça disse que o filme nasceu da angústia do que está deixando para suas filhas. Enquanto mundo e enquanto legado. Essa convalescência de História e imaginação permeia os 80 minutos do longa, que é um elogio da inocência e da originalidade do olhar.
“Acho que as pessoas podem terminar a sessão e se sentirem esperançosas”, confessa o cineasta ao ser indagado pela reportagem o que esperava que ficasse com o público adulto que assistir sua obra. Ele é secundado pelo ator Carlos Francisco, que vive um personagem pequeno, mas existencial, na trama. “O filme é muito otimista e mostra a necessidade de nos conectarmos mais com as crianças em nós”.
Na trama, Bebel, filha de um diretor de cinema em crise, quer fazer um filme com seus amigos para um projeto escolar. A realização do filme se torna uma grande aventura e leva Bebel, sua família e seus amigos a uma viagem pela história do cinema. Daí surgem questões desconcertantes como “O que é cinema?” e “O que é a vida para você?”.
Mendonça diz que embora existisse um roteiro, que é de sua autoria, inclusive, os diálogos eram fruto de espontaneidade. As crianças eram exortadas ao objetivo da cena e livres para criar. O cineasta se regozija ao falar da reação das crianças do lado de cá das telas, em pré-estreias, engajadas com o filme. “O longa tem um ritmo diferente das produções voltadas para esse público atualmente, mas não há pré-condição. Se aquilo for interessante, elas vão responder”.
Embora a linguagem aproxime “Um Filme de Cinema” do público infantil, há muito para os adultos no longa de Mendonça. Especialmente para os adultos enamorados do cinema. O filme advoga com veemência a importância de manter-se inquieto criativamente. Raramente o cinema brasileiro oferta algo capaz de espelhar o encanto das produções da Pixar e é preciso reconhecer quando alcança este feito.
