Redação Culturize-se
A utilização da Inteligência Artificial no jornalismo é envolta em um véu de incertezas. Uma pesquisa recente conduzida pela iniciativa JournalismIA da London School of Economics (LSE) lança luz sobre as dúvidas que cercam a adoção dessa tecnologia. Surpreendentemente, apenas 1% dos representantes de mais de 100 empresas jornalísticas de 46 países afirmaram não ter testado as ferramentas de IA. No entanto, o mesmo percentual não acredita que a IA generativa traga oportunidades para o jornalismo, em contraste com os 73% que discordam dessa opinião.
Isso sugere que muitos profissionais ainda não estão completamente convencidos da IA generativa, o que pode estar relacionado ao desconhecimento sobre suas aplicações e aos receios sobre os riscos associados. No entanto, mais de sete em cada 10 entrevistados veem oportunidades na IA para o jornalismo, embora seja possível que essas oportunidades não se concretizem rapidamente para todos. A pesquisa também destaca a distribuição desigual da tecnologia pelo mundo, o que pode ter impactos significativos na sociedade.
O relatório revela um panorama de incertezas em relação à integração da inteligência artificial em diversos setores, incluindo o jornalismo. No jornalismo, as preocupações estão diretamente relacionadas à capacidade de informar com precisão e imparcialidade.
Os principais usos da IA generativa no jornalismo incluem a produção de conteúdo (90%), distribuição (80%) e apuração (75%). Serviços de transcrição de áudio para texto e tradução automática são os mais citados, embora haja reclamações frequentes sobre imprecisões, especialmente em casos de áudios com sotaques.
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Por outro lado, há relatos que destacam a contribuição positiva da IA para a verificação de fatos, mostrando que é possível enxergar um lado positivo na adoção dessa tecnologia pela imprensa. Aplicações de Processamento de Linguagem Natural (Natural Language Processing – NLP) são usadas para coletar fatos e estatísticas oficiais a fim de verificar declarações ou anúncios, bem como para realizar buscas reversas e confirmar a autenticidade de imagens.
Brasil em desvantagem
No entanto, mesmo diante dessas possibilidades, há incertezas significativas sobre o alcance da IA no jornalismo. A pesquisa destaca que a adoção da tecnologia tende a ser menos universal do que se imaginava, com desafios mais acentuados em regiões do chamado Sul Global, como o Brasil. Os entrevistados mencionam desafios linguísticos, infra estruturais e políticos, e observam que os benefícios da IA tendem a se concentrar geograficamente no Norte Global, onde a infraestrutura é melhor e o acesso a recursos é mais fácil.
Um dos desafios mais citados é a barreira linguística, uma vez que os modelos de IA são predominantemente treinados em inglês. Essa limitação afeta o uso de aplicações de voz e outros recursos em idiomas diferentes.
Mira Yaseen, pesquisadora principal do estudo, destaca a disparidade global na adoção da IA como um dilema complexo. Ela aponta que os benefícios econômicos e sociais da IA estão concentrados no Norte Global, enquanto os impactos negativos, como o preconceito algorítmico, afetam desproporcionalmente o Sul Global, o que pode agravar as desigualdades sociais e refletir na mídia.
O jornalista Charlie Beckett, diretor do think tank Polis e da iniciativa de IA na imprensa da LSE, não subestima os riscos da tecnologia para a mídia. Ele descreve as mudanças trazidas pela IA ao jornalismo como “emocionantes e assustadoras”. Beckett reconhece que as ferramentas de IA generativa representam uma potencial ameaça à integridade da informação e dos meios de comunicação, desde que não sejam utilizadas adequadamente. No entanto, se forem incorporadas aos processos de forma responsável, ele acredita que oferecem uma oportunidade incrível para tornar o jornalismo mais eficiente, eficaz e confiável.