Sylvester Stallone, Jason Statham e companhia voltam, com algumas valiosas adições no elenco, para mais uma dança, com orçamento menor, mas o vigor de sempre em “Os Mercenários 4”
Por Reinaldo Glioche
Tem uma cena já no clímax de “Os Mercenários 4”, em um navio prestes a explodir uma bomba nuclear, que um capanga do vilão da vez tenta argumentar contra a ordem de perseguir Jason Statham já que a bomba vai explodir em três minutos. Ele leva um tiro e seu imediato assume o posto de boi de piranha. Que não se ouse comprometer o entretenimento que essa quarta incursão da franquia fomenta para os fãs do cinema brucutu, essa arte que só não está completamente perdida no cinemão de hoje por causa de Jason Statham.
Talvez por isso ele assuma o protagonismo deste filme. Menos um filme de grupo e mais um veículo para aquele que é indiscutivelmente o maior nome da ação no cinema contemporâneo. Stallone, no entanto, continua sendo o coração da franquia e suas interações com Statham o must-watch definitivo da brincadeira toda.
É notável que este quarto filme, que chega nove anos depois do terceiro, é uma produção mais modesta. Há menos estrelas do que no abarrotado longa anterior, mas as novas dão um caldo. Megan Fox não é apenas a nova namorada de Lee (Statham), mas uma figura proeminente no grupo de mercenários, Andy Garcia traz toda a canastrice necessária para o contato da CIA da vez e 50 Cent, bem, faz o que pode, mas tem uma piada sensacional com uma de suas músicas no filme.
Ação desmiolada
A franquia, que foi se construindo de maneira improvisada e com participações especiais irradiando a trama, casos de Harrison Ford, Mel Gibson, Chuck Norris e Bruce Willis em filmes anteriores, sempre foi sobre inadequação. A ideia original de Stallone, que dirigiu, escreveu e produziu o primeiro filme, de 2010, era homenagear os grandes astros do cinema de ação – um cinema que estava em processo de esquecimento. Em 2023 essa realidade parece ainda mais alarmante e “Os Mercenários 4”, com sua estética VoD não poderia parecer mais distante de produções como “Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1”, o grande expoente do cinema de ação contemporâneo.
No entanto, o longa mantém sua dignidade, diferentemente de franquias Frankenstein como “Velozes e Furiosos” e aposta no carisma, no humor testosterona e na ação desmiolada para agradar um público que não exige muito e continua disposto a beber na fonte da nostalgia.
Dirigido por Scott Waugh, o quarto filme por vezes parece ser mais uma sucessão de esquetes com aqueles personagens, além de Stallone e Statham, apenas Dolph Lundgren e Randy Couture são remanescentes do elenco original, do que uma obra coesa, mas tudo é passado para o espectador com muita franqueza. Trata-se de uma última dança! Inclusive o grande arrojo dramático navega nessas condições. É possível que a franquia continue, mas todos, mesmo o público, estão conscientes de que cumpriram seu papel.