Redação Culturize-se
Se você mora em São Paulo, com certeza já se deparou com os enormes coelhos azuis, quase surreais, criados pelo grafiteiro Kuêio. Essas criaturas estão em cartaz nas paredes da A7MA Galeria, convidando os espectadores a mergulhar na realidade das ruas e na visão do próprio artista, na exposição intitulada “Quando Falar Não Basta”.
Com mais de duas décadas de experiência no grafite, Kuêio, artista visual paulistano, desenvolveu um estilo único, conhecido como cartoon, que retrata de forma cômica personalidades do cenário urbano. Esses personagens se encontram durante a criação de grafite e pixação, seja através da ação de “pixar” ou por meio de registros de momentos urbanos, observados pelo olhar do artista.
Em suas obras, Kuêio retrata figuras do cotidiano urbano de São Paulo, especialmente aqueles envolvidos com o grafite, a pixação e os habitantes da periferia. Seu personagem principal, o coelho, é um grafiteiro pichador e está presente na maioria de suas criações. Outros personagens coadjuvantes incluem figuras como o “cabra da peste”, o “cara da periferia” de ascendência nordestina ou mesmo nordestinos imigrantes, além da pomba, que representa os bêbados que ocasionalmente interagem enquanto o artista está realizando seu trabalho de grafite. Outros personagens também fazem parte desse cotidiano urbano, trazendo uma rica variedade de elementos.
Kuêio também incorpora elementos e narrativas da comunidade LGBT+ em suas obras, uma vez que ele próprio é transgênero e homossexual. Seu personagem Kuêio, o coelho, reflete sua própria identidade e é representado como uma criança de 10 a 12 anos, transmitindo a energia e alegria dessa fase da vida, na qual os corpos ainda não passaram pelo desenvolvimento hormonal que influencia as características sexuais secundárias.
Da mesma forma, os kuêios, os seres retratados nas obras de Kuêio, não possuem gênero definido e se vestem de acordo com o tema proposto. Quem quiser pode interpretá-los de diferentes maneiras, dando-lhes gêneros conforme sua própria percepção. O personagem central, assim como o artista, é um apaixonado pelo grafite e entusiasta da pixação paulistana, o que resulta em narrativas e cenas frequentemente relacionadas ao universo do grafite e da arte urbana periférica.