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2019: O futuro que já passou, está nas diversas encarnações da trilha de “Blade Runner”

Tom Leão

Há alguns anos, o que parecia distante, aconteceu: aquele letreiro que abria o clássico sci-fi noir cult “Blade Runner, o Caçador de Androides” (‘Blade Runner’, 1982), que anunciava: ‘Los Angeles, 2019’, finalmente, chegou. E, passou. O que ficou dele? Quase nada. Ainda não temos carros voadores (estão em testes, vai demorar), androides servis, e nem Los Angeles virou uma cidade cinza e chuvosa. Mas, é verdade que, de modo geral, o planeta caminha, a passos largos, para se tornar um lugar inviável de se viver e com vários problemas climáticos. Pode ser que, num futuro distante, precisemos realmente migrar para colônias fora da Terra, como acontece no filme.

   Mas, para além da distopia mostrada no filme (baseado em livro de Philip K. Dick, “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, publicado em 1968, e cuja ação se passava de fato em 2021, que, também já passou), o que ficou de “Blade Runner”, além de seu visual incrível, de seus personagens inesquecíveis (os androides eram bem mais interessantes do que os humanos), foi a trilha-sonora. Que, apesar de ter sido muito popular à época, tem uma história meio complicada por trás.

Blade runner
Foto: Divulgação

   No filme, somos — o tempo todo –, conduzidos através das cenas por uma trilha sintetizada e bastante marcante, criada pelo compositor grego Vangelis (que, partiu em maio de 2022, aos 79 anos), nome muito conhecido pelos amantes do rock progressivo, que já havia feito sucesso à bordo da banda Aprhodite´s Child (do qual saiu o cantor pop Demis Roussous), nos anos 1960; criado álbuns referenciais nos anos 1970; e, até mesmo, feito as bases para uma trajetória de êxitos na carreira solo de Jon Anderson, vocalista do Yes. Como “I Hear You Now” (que fez muito sucesso nas FMs brasileiras na época), do álbum “Short Stories”, lançado em 1980, como Jon & Vangelis. A dupla lançou quatro discos de estúdio, sendo o último em 1991.

   Contudo, foi em 1981, que veio o grande sucesso para Vangelis (que deixou seu nome conhecido), quando ele ganhou Oscar de melhor trilha para o filme inglês “Carruagens de Fogo” (‘Chariots of Fire’, 1981, que também levou o Oscar de melhor filme do ano). Desde então, o seu tema da vitória, é usado em eventos esportivos, e virou um clichê inevitável. Logo, ele se tornou um trilheiro requisitado (entre outras, compôs trilhas para os filmes “1492: a conquista do paraíso”, também de Ridley Scott, em 1992; e para “Alexander”, de Oliver Stone, em 2004, entre as mais notáveis). Daí, voltamos a “Blade Runner” (1982), um dos filmes mais importantes da história do cinema.

   Apesar de Vangelis ter criado o score original para “Blade Runner” — todo à base de sintetizadores –, quando a trilha sonora oficial foi lançada, muita coisa que ele criou foi omitida no disco. A gravadora preferiu seguir um caminho mais comercial e destacar canções com vocais e de bases jazzísticas (que, até tocam no filme, como a romântica “One More Kiss, Dear”) e deixar a trilha a cargo da The New American Orchestra. Vangelis e o diretor Ridley Scott, repudiaram.

Trilha de Blade Runner
Foto: Reprodução/eBay

    Assim, levou mais de dez anos para que a trilha original de Vangelis para “Blade Runner” fosse, finalmente, lançada, em 1994. E, só em 2007, por ocasião dos 25 anos do filme, é que uma trilha completa, com tudo o que ele criou, saiu (em vinil, é triplo e colorido). Neste meio tempo, dezenas de edições bootlegs (piratas), com a trilha de Vangelis, circularam de forma não-oficial. A diferença? Mais temas instrumentais sintetizados e um clima arabesco. Aqui, saiu só um CD solo.

   Por isso, não existe uma trilha única para “Blade Runner”. Os fãs precisam ter diversas edições para ter tudo o que o grego criou (a primeira, com a New American Orchestra, que saiu aqui em vinil; a edição especial tripla de 25 anos; e o CD só com as músicas de Vangelis, fora os diversos bootlegs que circularam nesse meio tempo, sobretudo em fitas cassete e CDs). Já o filme, este, está na história do cinema para sempre, independentemente da data. Não expira, como os androides.

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