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As tendências no mercado de luxo no Brasil e no mundo

O mercado de luxo tem seguido influências da tendência old money, porém segue com espaço no mercado para quem não abre mão da ostentação

Por Mayra Couto

O mercado de luxo no Brasil e no mundo está cada vez mais diversificado mesmo seguindo linhas sociais pré-estabelecidas ao longo dos anos. Seja os adeptos do quiet luxuring ou até à ostentação silenciosa, as tendências do mercado de luxo, desde a moda, passando por turismo, colecionismo e automobilismo tem origens históricas.

mercado de luxo
Foto: Pixabay

Após um período de boom da ostentação e as tendências de logomania, na moda, por exemplo, o mercado de luxo atualmente retomou fortemente a tendência do quiet luxuring. Trata-se de um estilo que faz alusão ao old money e têm marcado presença em diferentes produtos como, série de TV, entre elas o fenômeno “Succession” da HBO; desfiles da semana de moda de marcas como Ralph Lauren, Brioni e Brunello Cottinelli, com peças mais minimalistas que valorizam o produto, mas que a logo nem sempre está presente; até a escolha de destinos menos procurados e com experiências, teoricamente simples, mas com luxo presente.

Como explica o consultor do mercado de luxo e joalheiro, inserido neste meio desde a infância, Estevão Soares: “Depois de um período de privação na pandemia de vivenciar experiências presenciais de consumo, vemos uma questão histórica, a compra por revanche. A opulência nos lançamentos trouxe um aumento de vendas expressivo. Agora, é como se a poeira tivesse baixado (superação da pandemia) um pouco mais e observasse um aumento da valorização do belo, pelo belo. Sem necessariamente ter ostentação”.

No mercado de luxo historicamente a expressão “old money” faz referência a fortunas passadas ao longo de gerações diferentes da mesma família. “O resgate na estética old money também impulsionada por uma questão televisiva, como na série “Succession”, volta o olhar para um minimalismo. Por exemplo, na moda, a roupa e acessórios não gritam que você é rico. Não tem a logo das marcas aparente, mas as peças mostram o caimento e os detalhes presentes em uma boa roupa, você consegue notar a qualidade”, comenta Estevão.

No início de julho o desfile da Fendi em Roma trouxe essa estética minimalista, por exemplo: “Vimos uma estética mais neutra, brilhos delicados e um resgate cuidadoso de referências da indumentária romana. Ao mesmo tempo, você vê uma Fendi mais minimalista, mas sem abrir mão da essência e origem. As marcas sempre quiseram essa estética, mas não foi uma mudança do dia pra noite. Old money sempre foi a identidade dessas marcas, a exacerbação da logomarca nunca foi uma estratégia delas”, explica Soares.

Luxo em (des)evidência

Esse resgate histórico sendo valorizado pelo mercado de luxo na moda tem marcado presença não só nos desfiles, como nos tapetes vermelhos. Em 2022, por exemplo, Kim Kardashian ganhou todos os holofotes ao utilizar um vestido de Marilyn Monroe no baile do Met. E, atualmente, as celebridades têm escolhido vestidos de décadas anteriores de grifes para ressaltar essa valorização, como a brasileira Gisele Bundchen que utilizou um longo da Chanel no baile do Met este ano – ela já tinha utilizado o mesmo vestido em uma campanha anos atrás.

Foto: Evan Agostini/Invision/AP

Além disso, o estilo minimalista também valoriza o trabalho do handmade que precisou ser validado pelo mercado de luxo para ser valorizado, como comenta a stylist Camila Ferza: “Por exemplo a bolsa de crochê da Chanel, é uma característica bem brasileira e nordestina. E precisou que as maisons dessem valor lá fora. Outro exemplo, são as sandália de couro, típicas da cidade Caruaru em Pernambuco, elas já foram apresentadas em desfile gringos. O upcycle também. O público de luxo começou a consumir, inclusive brechós específicos, com curadoria de bolsas icônicas”.

Contudo, não existe uma total unanimidade em relação ao estilo minimalista e old money. O luxo ostentação continua com um público fiel e com espaço e desejos atendidos, inclusive pelas grifes de luxo, que anos atrás aderiram a logomania.

Um exemplo é a nova coleção da Louis Vuitton assinada pelo novo diretor criativo, o cantor Pharrell Williams, e foi um dos shows mais disputados da última Semana de Moda de Paris. “Não existe certo ou errado. As tendências vão se apresentar aos montes, o último desfile da Louis Vuitton trouxe a estética oversize, misturas de cores, formas e estilos, que se distancia da estética old money”, comenta Estevão.

Para esse outro lado da moeda, que valoriza a ostentação, também tem influências televisivas com grande audiência como “Império da Ostentação”, na Netflix, “Soy Georgina”, reality também da Netflix, e o novo remake de “Sex and City”. E essa tendência também marca presença no estilo de vida. “Tem um novo público que ascendeu economicamente depois e que não vai se preocupar e gostar da estética old money. Se identificam com a logomania e as marcas vão atender esse desejo também. Esse público pode ter uma necessidade de se autoafirmar através da moda. Então, cada um veste a estética que acredita”, afirma Soares.

Na hora de consumir, independente do lifestyle, seja um item de moda, turismo ou experiências, esse público de luxo tem uma expectativa maior. “Sempre destaco que a experiência do consumo de luxo é importantíssima. Você lida com um cliente que está sempre com um olhar à frente, que tem acesso a tudo de mais novo, e tem um desejo de consumo que vai além do produto”, afirma Estevão.

Luxo como afirmação

Outro ponto é a autoafirmação: “Quem consome esse mercado de luxo, também o utiliza como forma de status e afirmação cultural, e quer passar a mensagem que está por dentro do que está na moda. Quem usa um Jacquemus, gosta de mostrar que está antenada. E, claro, esse público valoriza itens de qualidade, mas existe a busca por peças-desejo. Gostam de ter as bolsas da Hermés para colacionar, por exemplo”, comenta Ferza.

Já quando a questão são destinos turísticos e experiências, esse público procura por características diferentes. “O que venho observando, apesar de gostar do verão europeu, é sempre a Costa Amalfitana e a escolha de se hospedar em um hotel que fica dentro de uma vinícola, que conta com várias experiências como preparar sua própria empanada.  É um luxo despretensioso no lifestyle de ir para praia com um maiô, rasteirinha e uma bolsa Hermés. Não está mais valorizado no mercado de luxo a bolsa intocada, ou o sapato que não é utilizado. Não tem mais necessariamente aquele desejo de colecionar apenas e não usar”, comenta Estevão.

A tendência comentada pelo consultor de mercado de luxo no turismo, também é reafirmada por agências de viagens que trabalham com esse público. “Depende da idade. Casais e viajantes solo têm explorado a experiência de alugar uma casa no exterior para vivenciar a cultura “in loco” diferente da vivência de um turista, e ainda associada a estudos e hobby. Exemplo: cursos para maiores de 50 anos no sul da França com foco em gastronomia ou na Toscana, na Itália, com foco em história da arte e duração a partir de 2 semanas. Executivos têm explorado grandes centros como Londres ou Nova York para fazer cursos de negócios, marketing ou gerenciamento de projetos e muitas vezes levando família e filhos que podem simultaneamente fazer um summer camp”, comenta Marina Motta, gerente da STB Recife.

Cursos de história da arte na Toscana | Foto: Divulgação

Ambos sinalizam que o mercado de luxo sempre valoriza um bom atendimento, a qualidade da experiência e como a comida é feita. “Uma das minhas experiências mais marcantes foi quando fiz uma viagem para o Chile e meu quarto tinha vista para um vulcão, que parecia estar prestes a erupcionar. Estávamos há 12 horas da capital, então foi uma experiência única. Além disso, minhas idas a Costa Amalfitana e Capri sempre me encantaram, com um luxo despretensioso. O simples não é simplório no luxo“, compartilha Estevão.

No quesito gastronomia o público considerado “A” do mercado de luxo busca por experiências únicas e por novas descobertas culinárias. “O que eu acho interessante nesse público é essa vontade de conhecer uma cozinha nova e isso acaba nos impulsionando a estar sempre buscando novas tendências em viagens. Nossos cardápios tem novidades durante todo o ano. Sempre estamos em busca de inovação e novos sabores”, explica Biba Fernandes Chef, premiado à frente dos restaurantes Chiwake e Chicama, em Recife, que inclusive ganhou recentemente a última edição do Prêmio “Melhores do Ano” da revista Prazeres da Mesa. Os restaurantes do chef são famosos por apresentar uma cozinha peruana com uma fusão das culinárias japonesa e nordestina.

“O último prêmio que ganhei nos exige ainda mais e nos desafia.  A cada ano viajo ao Peru e acompanho novas tendências. Na minha última viagem, por exemplo, vi uma forte tendência mexicana e já incluímos nos nossos cardápios”, complementa Biba Fernandes.

Já uma paixão que une os dois lifestyle, old money e ostentação, é o automobilismo. “A nova Lamborghini já está com uma lista de espera absurda. E não é um carro clean, cada vez mais tem se falado de carros que poluem menos, híbridos, com teto solar. Mas em termos de estética, muitas vezes esses carros são rebuscados”, opina Estevão Soares.

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