Entenda como a espiritualidade e práticas holísticas podem influenciar no bem-estar e positividade das pessoas
Por Mayra Couto
A espiritualidade e outros aspectos terapêuticos como astrologia, tarô, reiki, entre outras práticas holísticas podem ter efeitos positivos na sensação de bem-estar diário, potencializar o processo de crescimento de um indivíduo, ajudar na busca pelo autoconhecimento e fazer a diferença na forma como essa pessoa vê a vida.
Por isso, vários estudos de psicologia ao longo dos anos já mostravam a importância da espiritualidade na vida das pessoas, e como seu reflexo na maioria dos casos traziam benefícios para aquele paciente.
Não à toa, em abril deste ano (2023), o Conselho Federal de Psicologia publicou uma resolução que informa que os profissionais da área precisam levar em consideração: os aspectos históricos e culturais das experiências espirituais e religiosas; e a dimensão da religiosidade e da espiritualidade como elemento formativo das subjetividades e das coletividades.
Contudo, ainda no final dos anos 70 surgiu no Brasil a Psicologia Transpessoal que já contava com uma agenda de pesquisa que ressaltava a inclusão da espiritualidade como aspecto fundamental na promoção da saúde, como analisa esse artigo da Revista Portal Saúde e Sociedade.
“A rede de crenças de uma pessoa precisa ser levada em consideração quando você está pensando no bem-estar dela. O importante é vermos o quanto essa pessoa se beneficia dessa prática holística e o quanto ajuda a potencializar os processos de crescimento e saúde. Contudo, como qualquer prática podem ter distorções, por isso algumas requerem cuidados e a busca de um profissional capacitado”, explica Aurino Ferreira, psicólogo, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e presidente da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Psicologia Transpessoal.
Por isso, no caso da psicologia, cabe ao terapeuta dar suporte, ouvir e estimular o senso crítico do paciente. “O terapeuta vai valorizar processos que possam melhorar a qualidade de vida daquele paciente. É importante salientar que o terapeuta precisa ter uma boa formação que possa compreender, analisar e questionar com o paciente, em casos que, por exemplo, for no tarô ou qualquer outra prática e traga sofrimento ou uma maior angústia”, segue Aurino.
“O psicólogo vai ter o cuidado de apoiar a pessoa, cuidar e se essa prática tiver causando sofrimento, trabalhar uma forma de mudança e até uma quebra dessa crença que pode ser limitante, se tiver um tratamento holístico que impacte negativamente. A busca holística precisa ser vista como algo integrativo. Mas se promove sofrimento, mal estar e alienação, isso deve ser questionado e refletido entre psicólogo e paciente”, comenta Aurino.
Foi o caso da produtora Sofia Almeida, que além de terapia gosta de aliar práticas holísticas integrativas. “Quando eu penso no meu corpo e na minha saúde, eu penso de uma forma mais integrada. Eu gosto de conciliar o tratamento da minha mente, com o do meu corpo e com a do meu espírito, da minha alma. Por isso, acredito que integrando essas frentes eu acelero o meu processo de bem-estar”, afirma.
Para isso, ela faz sessões de reiki, massagem com pedras quentes e acupuntura, além da terapia com psicólogo. “Acredito que tudo que não faz mal para o meu corpo e que não tá fazendo mal a ninguém vale a pena experimentar”, complementa Sofia.
Pensando nisso, ela resolveu dar um tempo em uma outra prática holística que costumava incluir no seu processo, o tarô. Sofia coleciona algumas experiências não tão positivas e que acabaram gerando angústia e adiantaram sofrimentos. “Eu comecei a tirar tarô em 2017, como ferramenta de autoconhecimento e ter uma confirmação, através daquelas cartas ali do que já se passava dentro de mim. E foi muito eficiente, a experiência me ajudou muito a me sentir mais segura, confiante e a confiar no futuro. Então fazia 2 vezes ao ano. Mas em 2019, tive uma experiência não muito boa que me causou bastante ansiedade. Que durante o jogo apareceu o término de um relacionamento e eu comecei a sofrer por antecipação, isso começou a me gerar mais ansiedade e de fato aconteceu”, conta.
Desde então, Sofia passou a se questionar se vale a pena antecipar certas possibilidades da vida e o que pode causar ter acesso a informações negativas como foi essa experiência dela. Neste caso de experiências não positivas relacionadas à previsão de futuro, Aurino explica: “Ao ouvir uma informação como essa, você entra em um nível de tensão tão alto, a partir de uma previsão, que acaba dando possibilidade para que aquela previsão ocorra. A gente não tem controle sobre o futuro, e isso nos angustia. E aí criamos mecanismos para aliviar essa angústia, como criar um futuro. Mas ele está sendo escrito agora, no momento que você está vivendo. O futuro está aí presente. Mas ele não é uma determinação. A terapia é um espaço para a pessoa encontrar liberdade frente a esses destinos escritos. Você é capaz de encontrar outras saídas no seu processo de crescimento”.
Já para outras pessoas a experiência com práticas que também analisam o futuro pode ser completamente positiva: “Eu sempre acreditei na astrologia e pra mim sempre fez sentido, como previsões e possibilidades. Me ajuda a ter uma visão mais ampla e mais a longo prazo das coisas, mas claro que não pode se guiar apenas por isso”, embora a advogada Maria Albuquerque.
“A astrologia e o tarô fizeram eu me sentir menos ansiosa, já que o tarô pode ajudar a mostrar um caminho. E, no meu caso, ajudou muito. Mas também vale ter cuidado e atenção para não ficar recorrendo a isso toda hora e ficar meio dependente dessas previsões. Ajudou a melhorar a ansiedade, mesmo tratando também na terapia. É bom ter cuidado na hora de escolher o profissional, já que essas informações mexem com você e existe ali uma troca de temas muito pessoais”, conta a advogada.
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A modelo Vitória Gallo também gosta de usar o tarô como guia e alia com a terapia: “Para mim, o tarô é apenas um guia em que eu possa me localizar, de forma espiritual, em sentimentos que estão ocorrendo em uma fase da minha vida. Ele é um clareador de ideias, e os assuntos eu resolvo na terapia com psicólogo. E percebi que energeticamente falando, o reiki é mais presente do que o próprio tarô”.
Mesmo em um país tão plural no quesito da espiritualidade e de práticas holísticas, ainda existe preconceito e julgamentos de terceiros em relação a algumas práticas. E, por receio disso, apenas uma das entrevistadas topou compartilhar a sua experiência utilizando seu nome real, as outras duas optaram por preservar sua identidade.
Por isso, vamos desvendar um pouco de como funcionam as principais práticas holísticas citadas.
Astrologia e tarô
A astrologia é um oráculo milenar e foi utilizada no passado para indicar, através dos planetas, momentos propícios para plantar e colher, por exemplo. À medida que os anos foram passando, deixou de ser voltado para agricultura, guerras, reinado e passou a ser individual.
Como explica a astróloga e taróloga Carol Leão, a “astrologia parte do princípio de que você é um indivíduo, que está dentro de um contexto e de um meio ambiente, que é a sua cidade, por exemplo, além dos contextos políticos e econômicos. E leva em consideração como você lida com todos esses aspectos. Então, a astrologia ajuda a identificar o que é mais positivo em você dentro do contexto em que você está e o que é mais desafiador para que você possa trabalhar e modificar, através de terapia, exercícios, do uso melhor da comunicação. Ou seja, se autoconhecendo, você consegue analisar qual o melhor momento para agir, por exemplo. É um mergulho profundo no autoconhecimento“.
Nessa busca por autoconhecimento através da astrologia, dois caminhos são os mais procurados: o mapa astral e a revolução solar. “O mapa traz muitos indicadores: mostra o tipo de profissão, o tipo de ganho financeiro, relacionamento, se essa pessoa vai se casar, se vai ter filho, se utiliza comunicação positiva. Se a pessoa tem comportamentos mais individualistas ou expansivos. Trabalhamos dentro de um mapa 12 setores como individualidade, trabalho, dinheiro, comunicação, família, amor, relacionamento, saúde, expansões, prosperidades, medos. Cada planeta circulando por um tema e uma área do céu, ativa um movimento específico na sua vida. O mapa natal é um processo de conhecimento e auto reflexão muito profundo, que tem o objetivo de identificar como a pessoa age”, explica Leão.
A revolução solar mostra a cada ano como esses temas presentes naquele mapa natal podem trazer objetivos novos e mostrar o potencial daquele ano em relação ao crescimento. “A revolução mostra apontamentos de tendência para aquele ano. E nela, conseguimos analisar, inclusive, os desejos que aquela pessoa tem para aquele determinado período”, comenta Carol.
Já o tarô é um outro tipo de oráculo, são diferentes. Assim como tem o búzio, cartas, existem vários tipos de previsões. “Por exemplo, a astrologia usa a posição dos planetas no céu e como isso vai estar representado na carta natal, levando em consideração o dia e ano do nascimento. A astrologia toca muito mais no conceito de destino, de autoconhecimento e aproveitamento para que a pessoa entenda sua história, demandas e oportunidades”, observa a especialista
“Já o tarô é utilizado para você ver outras pessoas, por exemplo, amor, equipe de trabalho, outras questões. Ele é bem diferente. Um sistema até recente, comparado a astrologia que tem mais de 5 mil anos. O tarô tem registros a partir da idade média para cá e usa 78 cartas que são distribuídas e, através de jogos, você consegue prever o futuro. Ambos trabalham com previsão de futuro. No caso do tarô, são questões mais objetivas com uma durabilidade menor, de 3 a 6 meses”, explica a astróloga e taróloga Carol.
Contudo, vale salientar a importância de procurar um profissional qualificado. “Nem todo astrólogo utiliza tarô. São áreas diferentes, que precisam ter estudos específicos. Por isso, é necessário escolher um profissional capacitado”, conclui Leão.
Raiki e massagem com pedras quentes
O Reiki tem como intuito canalizar energia para pontos vitais, através da imposição das mãos sobre o corpo. A prática milenar é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, inclusive, aplicada no Sistema Único de Saúde (SUS).
O Reiki também é conhecido como uma terapia integrativa: “Vamos buscar identificar as possíveis desarmonias que possam estar causando patologias naquela pessoa, sejam elas físicas, emocionais ou energéticas. Ele funciona através da imobilização energética e nós vamos estar facilitando o fluxo de energia no corpo do paciente, através de uma ponte de ligação da energia do universo com a energia dele. Basicamente servimos como cano condutor para limpeza e renovação dessa energia. Existem 4 níveis de reiki. É uma terapia com imposição de mãos em alguns pontos específicos para equilíbrio do corpo”, comenta Bruno Mazulo, especialista em terapias integrativas como Reiki e Acupuntura.
Mas ainda existe uma certa confusão em relacionar a prática com religião. “Lembra o passe, mas não tem relação com religião. Trabalha o fluxo de energia do corpo e a energia do universo. O reconhecimento da OMS ajudou muito a difundir e popularizar a técnica. Em Recife, por exemplo, temos dois centros de saúde pública que oferecem tratamentos com Reiki”, explica Bruna.
Já a massagem com pedras quentes também é um tratamento milenar que busca o bem-estar. “A terapia com pedras vulcânicas aquecidas é utilizada desde 2 mil anos, antes de Cristo. E tem como finalidade, relaxar, proporcionar ação anti-inflamatória, melhorar o fluxo sanguíneo, provocar vasodilatação e acalmar”, explica Gilvania Sabino especialista em massagem com pedras quentes.