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A beleza das imperfeições está no centro do ótimo “You Hurt my Feelings”

Novo longa de Nicole Holofcener trata das pequenas fissuras nas relações amorosas e da importância de aprender a conviver com nossas imperfeições

Por Reinaldo Glioche

Em um dado momento de “You Hurt my Feelings”, o terapeuta vivido por Tobias Menzies se dá conta de que confundiu um elemento da trajetória de um de seus pacientes. Ele é rapidamente confortado por ela, mas não se perdoa: “isso não é ok”, ratifica. Aquela circunstância ingrata revela que as coisas não vão muito bem em seu universo interno. É dessa tomada de consciência, no âmbito íntimo, mas também afetivo, que o novo filme de Nicole Holofcener, um dos melhores de 2023, se ocupa.

Don (Menzies) é casado com Beth (Julia Louis-Dreyfus), que volta a colaborar com a cineasta 10 anos depois do excelente “À Procura do Amor”, uma escritora que está penando para conseguir publicar seu segundo livro, sua primeira incursão pela ficção. O relacionamento dos dois estremece quando ela entreouve uma conversa dele com o concunhado, papel do não menos ótimo Arien Moayed, em que ele admite não ter gostado do novo livro, mas se ressentir de falar isso para a esposa com receio de fragilizá-la.

Foto: Divulgação

Aquilo cai como uma bomba para Beth, ironicamente confirmando os receios de Don, que entende não poder mais confiar no marido e, não obstante, passa a reparar que seu primeiro livro, com o qual ela estava bastante confortável a respeito, talvez não tenha sido tão lido assim.

O que Holofcener, que também assina o ótimo roteiro, observa com desenvoltura a partir de então é como esse conjunto de personagens, há ainda o filho às voltas com o término de uma relação amorosa e o desafio de “escrever uma peça sob a sombra da mãe escritora”, lidam com as fissuras dos relacionamentos e a necessidade de aprender a conviver com as imperfeições. As nossas, a de nossas relações e a de quem conosco se relaciona.

Além dos diálogos inteligentes, a aura Woodyalleniana parece ainda mais pulsante aqui do que em “Sentimento de Culpa” (2010) e “Amigas com Dinheiro” (2006), os atores em boa forma ajudam a tornar essa joia bruta do cinema indie norte-americano em algo que ressoa profundamente no público, convidando-o à introspecção e autoanálise, mas de uma maneira bem delicada.

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