Redação Culturize-se
A ansiedade provocada pela inteligência artificial é generalizada. Profissionais de diversas categorias temem pelo futuro de suas carreiras e sobram incertezas sobre o impacto social, econômico e cultural do desenvolvimento de IAs. Um campo, porém, parece muito mais receptivo às possibilidades ensejadas pela nova tecnologia. Trata-se da área do conteúdo sexual pago.
A atriz pornô Adriana Chechik se colocou na vanguarda desse movimento. Após sofrer um acidente que a impediu de trabalhar, ela lançou o seu próprio programa de IA, chamado ‘Adriana Chechik AI Companion’. Trata-se de um robô onde os usuários poderão ver fotos e interagir com uma voz idêntica à da atriz, onde conversas explícitas estão liberadas. Outra estrela do segmento, Brandi Love, acaba de lançar sua versão IA e convidou seu fãs para treiná-la e deixá-la mais safada. É, de certa forma, a automatização do antigo disque-sexo, mas com a voz e imagem da sua atriz pornô favorita.
O movimento segue uma tendência disruptiva em que sex workers reclamam para si o controle e gestão de suas carreiras, mas chama a atenção a maneira serena com que a inteligência artificial está sendo inserida nesse mercado.
No Brasil, a plataforma Privacy anunciou a “primeira criadora de conteúdo brasileira feita por inteligência artificial”. A plataforma demonstra otimismo com a novidade. “Alicia Code tem a capacidade de estar em qualquer lugar e qualquer situação. A inovação reside no fato de que, ao contrário de uma modelo humana, Alicia tem a possibilidade de atender às mais diversas solicitações dos usuários, redefinindo a forma como o conteúdo adulto é consumido e apreciado”.
A indústria pornográfica já teve algumas revoluções, mas essa pode ter dimensões difíceis de calcular e efeitos incontornáveis. Embora a novidade suscite curiosidade e empolgação e apresente um novo e promissor mercado da venda de conteúdo adulto feito por IA, é possível vislumbrar no médio prazo diversos pontos de fricção. A realidade virtual sempre foi um elixir para essa indústria e, nesse momento, parece mais palpável do que nunca.
Velhos problemas
Mais premente, claro, há o problema dos deepfakes, que, justiça seja feita, já era um caroço no angu bem antes da popularização das inteligências artificiais. Há um outro debate sobre a maior acessibilidade a deepfakes com o desenvolvimento de IAs mais sofisticadas, mas ele não é inerente aos rumos da indústria pornográfica. A rede social Discord, uma espécie de porão da internet moderna, é um portal para essa realidade em que celebridades como Angelina Jolie, Jennifer Lopez viram performers do sexo.
Alguns criadores de conteúdo erótico são céticos sobre a tendência e não estão preocupados com o fim de suas carreiras.
“Qualquer pessoa que pense que imagens geradas por IA de mulheres nuas atraentes vão arruinar a economia do OnlyFans para mulheres reais tem uma compreensão fundamental errada do que é o OnlyFans”, declarou a estrela do OnlyFans, Laura Lux, no Twitter.
Lux afirma que seus assinantes preferem uma conexão pessoal que as “estrelas” geradas por IA não serão capazes de fornecer. Muitos consumidores também preferem conteúdo imperfeito, como evidenciado pelo aumento de vídeos amadores e uma mudança em direção a produções menos elaboradas.
Alex Sim-Wise pensa que a ansiedade em relação às estrelas pornô impulsionadas por inteligência artificial não será duradoura. Ela diz que muitas estrelas pornô já usam elementos de IA para parecerem diferentes em suas fotos e vídeos.
“Há todo um subconjunto de criadores que alteram sua identidade”, disse ela ao Independent. “Acredito que os criadores do OnlyFans já têm usado [esse tipo de tecnologia] sem realmente saber, às vezes, com todos os aplicativos que usamos para editar nosso conteúdo. Eles são, essencialmente, IA e estão se tornando mais inteligentes.”