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Documentário foca em escândalo do Pornhub para flagrar idas e vindas da guerra à pornografia

“Pornhub: Sexo Bilionário” narra ascensão e queda de um dos sites mais famosos da indústria pornográfica e como essa trajetória engloba diversos interesses frequentemente opostos

Por Reinaldo Glioche

O Pornhub ainda está no ar, mas seu modelo de negócio mudou sensivelmente desde a deflagração de um escândalo midiático por uma reportagem do The New York Times que mostrava como o site lucrava com vídeos de vítimas de estupro, muitas delas menores de idade. Esse é o principal mote do documentário da Netflix “Pornhub: Sexo bilionário” (Money Shot: The Pornhub Story, EUA 2023), mas não o único.

O filme de Suzanne Hillinger quer entender como o site que talvez seja o caso de tech industry mais bem-sucedido do século se envolveu em um escândalo de tráfico sexual, mas quer também dimensionar como o episódio serviu para inflar o ataque à pornografia. Ao fazê-lo, demonstra como defender a indústria pornográfica e o direito das pessoas consumirem conteúdo sexual é, em última instância, proteger liberdades individuais e a própria liberdade de expressão. Tange, ainda que desordenadamente, como o modelo de publicidade ensejado pelo Google e rapidamente institucionalizado nos quatro cantos da internet em que se privilegia volume de tráfego e visualizações gera deformidades como a que colocou o Pornhub no centro da discórdia.

A atriz pornô Cherie DeVille é uma das entrevistadas do documentário | Foto: divulgação

O começo da história

Antes, porém, é preciso contexto e o documentário mostra como a internet foi disruptiva para a indústria pornográfica, principalmente do ponto de vista do acesso e o Pornhub foi um dos reflexos dessa disrupção – surgiu antes mesmo do Facebook como um case de sucesso na ideia de comunidade, no caso, pornográfica. A empresa que controla o Pornhub, a Mindgeek, para todos os efeitos um tube, em que se upa facilmente vídeos em seu ambiente, detém outras empresas no âmbito da pornografia, como a produtora Brazzers.

O modelo de negócio do Pornhub consiste em vender publicidade beneficiando-se, claro, do imenso tráfego que recebe, superior ao já referido Facebook e tantos outros gigantes da internet. A monetização deriva das visualizações e vídeos com muitos views fazem muito dinheiro e, claro, dão muito dinheiro ao Pornhub.

O X da questão

Ocorre que qualquer pessoa pode upar um vídeo no Pornhub e apenas quem deseja ganhar dinheiro na plataforma passa por algum tipo de verificação. Isso abre caminho para os porões da internet e para o escândalo que tomou a opinião pública norte-americana de assalto nos primeiros anos desta década.

Usuários cujo rastreamento era improvável subiam vídeos de estupro no site e, mesmo com denúncias, a plataforma não tinha pressa em remover esse conteúdo, que invariavelmente lhe provinha ganhos financeiros. Depois da deflagração do escândalo, o Pornhub sustou todo o conteúdo de usuários não verificados, mas o estrago já estava feito. Empresas de cartão de crédito foram instada a cortar vínculos comerciais com a plataforma, o que diminuiu as opções dos criadores de conteúdo sexual, que se viram ainda mais dependentes da alternativa, o OnlyFans.

A ex-funcionária do Pornhub Noelle Perdue: esteio narrativo do documentário | Foto: divulgação

Hillinger tem genuíno interesse nos pontos de vista dos personagens de seu filme, mas eventualmente percebe que os performers são mesmo as figuras mais frágeis dessa equação e que o Pornhub, no contexto do escândalo que motivou o documentário, é parte de um problema que não diz respeito à pornografia em particular, mas a internet como um todo.

A necessidade de moderação e a escalabilidade da publicidade estão em lados opostos de um negócio que utiliza o conteúdo como commodity. O jornalismo, por exemplo, também viu seu modelo de negócio precarizado com a chegada da internet e a publicidade apadrinhada pelas big techs.

Não à toa em distintos momentos do filme diferentes personagens fazem menção a algum tipo de regulação para a sustentabilidade de internet e indústria saudáveis. Noelle Perdue, que trabalhou no Pornhub e serve como esteio narrativo do documentário, vê todo “o debate ser movido por falsas premissas que acabam por esconder os reais problemas”.

A aguçada percepção da entrevistada não é compartilhada pelo documentário que desperdiça a chance de ser mais assertivo em relação a apropriação do episódio envolvendo o Pornhub por setores historicamente anti-pornô e sobre como o modelo de publicidade online favorece deturpações como a do escândalo em questão. No limiar, “Pornhub: Sexo Bilionário” se contenta em fazer parte do problema.

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