Christopher Nolan acredita que os dilemas morais do protagonista de “Oppenheimer” são os mesmos enfrentados por cientistas e tecnólogos na atualidade
Redação Culturize-se
Em seu vídeo com análise do filme “Oppenheimer”, o crítico e editor-chefe de Culturize-se, Reinaldo Glioche, atenta para os pontos de similaridade entre o foco dramático do filme de Christopher Nolan, a criação da bomba atômica, com o atual momento do mundo com uma corrida, ainda desregulada e sem parâmetros de segurança, pelo desenvolvimento da inteligência artificial.
O próprio Christopher Nolan reconhece que seu filme serve como alerta e reflexão. Ele já disse em diferentes entrevistas promocionais que os dilemas morais apresentados pela inteligência artificial espelham aqueles enfrentados por Robert Oppenheimer. Outro cineasta de elevada estatura em Hollywood e entusiasta de novas e disruptivas tecnologias, James Cameron também externou preocupações.
“Eu avisei vocês em 1984”, brincou o canadense, em entrevista à CTV News, em referência ao seu filme “O Exterminador do Futuro”. “Acredito que entraremos em uma corrida armamentista equivalente à nuclear com a IA, e se não a construirmos, com certeza os outros vão construir, e então isso se intensificará”. Embora desaprove a militarização da IA, ele não vê como escapar dessa realidade.
“Quando converso com os principais pesquisadores no campo da IA agora, por exemplo, eles se referem literalmente a isso como seu momento Oppenheimer”, disse Nolan em entrevista à NBC. “Eles estão olhando para sua história para dizer: ‘OK, quais são as responsabilidades dos cientistas que desenvolvem novas tecnologias que podem ter consequências não intencionais?'”
Cameron é categórico ao apontar a raiz do problema e como a psique humana afetará o desenvolvimento das inteligências artificiais. “Você tem que seguir o dinheiro, quem está construindo essas coisas? Certo? Eles estão construindo para dominar a participação de mercado”, disse ele. “Então, o que você está ensinando a ela (a IA)? Ganância, ou você está construindo para fins defensivos. Assim, você está ensinando paranoia.”
Embora pareça uma realidade distante, o momento da tomada de decisão é agora. “O risco de emergência de novas formas de armas de destruição em massa em uma forma radicalmente diferente, mais sofisticada e perniciosa, agora se tornou real”, escreveu Birgitta Dresp-Langley, professora da Universidade de Estrasburgo, na França, especializada em filosofia, inteligência artificial e informação, em março, no periódico Frontiers in Artificial Intelligence.
Aprendendo com o passado
Nolan disse que a relação cada vez mais íntima entre a IA e as armas expõe a necessidade de responsabilidade corporativa. Ele afirmou que a ideia de pessoas produzindo ou usando a tecnologia sem compreender verdadeiramente suas implicações é “aterrorizante… porque, à medida que os sistemas de IA entrarem na infraestrutura de defesa, acabarão por estar encarregados de armas nucleares”.
O que nos leva ao novo “Missão: Impossível”, em que Tom Cruise enfrenta A Entidade, uma inteligência artificial super sofisticada capaz de infiltrações em qualquer ambiente online. É realmente interessante como o cinema, até mesmo pela greve dos roteiristas e atores de Hollywood que tem o uso da inteligência artificial como um de de seus pontos centrais, está capturando com precisão singular circunstâncias e perspectivas.
De volta à “Oppenheimer”, Nolan espera que as pessoas que assistirem ao filme estejam mais cientes dos perigos enfrentados hoje e “saíam da sessão com algumas questões inquietantes, alguns problemas perturbadores”.