O argentino Andy Muschietti se firma como uma referência para cinema que combina aspectos de autoralidade com potência comercial
Por Reinaldo Glioche
Um curta-metragem de horror o pôs no radar de um patrono do gênero, o cineasta mexicano Guillermo Del Toro, que produziu a versão em longa-metragem de “Mama” (2013), que há dez anos introduziu o talento de Andy Muschietti, que então assinava como Andrés Muschietti, em Hollywood.
O trabalho o credenciou a assumir a refilmagem de “It – A Coisa” (2017), que foi um tremendo sucesso e teve uma continuação lançada dois anos depois. Aí veio a missão de dirigir “The Flash” (2023) e uma série de problemas, desde as contravenções do protagonista Ezra Miller até problemas com Covid e regravações. O filme, embora ótimo, está penando nas bilheterias e sendo triturado pela crítica, mas isso não abalou a confiança de James Gunn, novo homem forte da DC no cinema, que já escalou Muschietti para dirigir o filme “The Brave and the Bold”, uma nova incursão de Batman e Robin no cinema.
Ele também está vinculado ao desenvolvimento da série original MAX “Welcome to Derry”, uma prequela dos eventos mostrados nos dois filmes “It”.
Como pode se observar, o argentino desenvolveu uma boa relação com a Warner Bros., que costuma fecundar relações criativas com cineastas de talento e potência, como Clint Eastwood, Ben Affleck, Christopher Nolan, entre outros.
Muschietti completa 50 anos em agosto e já é possível dizer que é um dos cineastas latinos mais bem sucedidos em Hollywood. Claro que há diferentes padrões para se medir sucesso. Os filmes de Alejandro González Iñarritu não renderam tanto quanto os de Muschietti, mas foram todos ao Oscar. Mas é inegável que o argentino já é uma figura consolidada no cinemão ianque.
O domínio da linguagem cinematográfica é outro elemento notável em Muschietti e que já podia ser notado em “Mama”, um terror melancólico sobre maternidade que ajudou a formular uma tendência de filmes de terror dramáticos que viria a seguir, a qual os próprios longas de Pennywise fazem parte.
“The Flash”, a despeito da bilheteria, mostra que Muschietti é um handyman (faz-tudo) de mão cheia. Sua missão não era fácil. Arrematar um universo, declarado morto antes da estreia do filme, que foi sendo improvisado e erguido sem nenhuma convicção, ajustar a trama de multiverso de forma a fazer sentido retroativamente e ainda entregar uma aventura de super-herói palatável. No que conste a providencial ajuda da roteirista Christina Hodson, o cineasta mostrou esmero e desenvoltura na tarefa.
A credibilidade de Andy Muschietti
Em meio a tantas turbulências com a produção de “The Flash”, a divulgação do filme ficou comprometida e recaiu também sobre o diretor a maior parte da promoção do lançamento. Mais uma demonstração de que tal qual outro diretor de um grande blockbuster da temporada, James Mangold de “Indiana Jones e o Chamado do Destino”, o argentino reputa credibilidade para além da fácil transição de gêneros.
Andy Muschietti esteve, inclusive, no Brasil no mês passado para divulgar o lançamento do filme. “The Flash me transportou aos anos em que eu comprava quadrinhos, principalmente Superman e Batman. É uma bela viagem nostálgica para mim; foi um lindo desafio”.