Grandes colecionadores também desempenharam um papel importante na difusão da arte e o MASP talvez seja o exemplo mais completo dessa condição
Por Mariana Bueno
Além de toda a questão financeira, o investimento em arte pode ser também uma forma de ajudar a cultura e os artistas. Justamente por isso, um dos aspectos mais importantes do metiê é a relação propositiva entre investidores e museus.
Os colecionadores de obras de arte sempre estiveram ligados ao próprio desenvolvimento e na difusão das artes. No período do Renascimento, os mecenas, como eram chamados – e nome usado ainda hoje – investem em artistas que, assim, podiam se dedicar ao ofício e criar novas obras, que eram divulgadas pelos compradores.
No Brasil, grandes colecionadores também desempenharam um papel importante na difusão da arte. Um exemplo é o MASP (Museu de Arte de São Paulo), que foi idealizado pelo empresário e mecenas Assis Chateaubriand com o apoio do crítico de arte italiano Pietro Bardi. Juntos, eles impulsionaram as aquisições de obras no mercado europeu. E, por englobar diferentes tipos de arte – pintura, escultura, fotografia – o museu conquistou a simpatia de colecionadores, o que fez com que aumentassem as colaborações.
O MASP foi fundado em 1947 e se tornou o primeiro museu moderno no país. Rapidamente se expandiu, passou a funcionar em um espaço icônico projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi na Avenida Paulista. Hoje é o museu brasileiro mais famoso e um dos mais visitados – em 2022 foram 440 mil pessoas.
Entre os exemplos mais recentes de museus, é possível citar o Instituto Inhotim, em Brumadinho, em Minas Gerais, idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz. Considerado um dos maiores museus a céu aberto do mundo, tem cerca de 700 obras de mais de 60 artistas, de quase 40 países, expostas ao ar livre em meio a jardins com diferentes espécies botânicas.
Ou seja, os investidores e colecionadores têm um papel importante na difusão da arte e muitos museus foram criados a partir de coleções particulares. “Essas pessoas compõem o panorama das artes e trabalham junto às instituições de validação como museus, galerias e a universidade”, salienta o historiador da arte Lucas Xavier.
Brenda Valansi, presidente da ArtRio, também acredita que é interessante que colecionadores busquem parcerias com museus para expor as obras que possuem, pois é algo que beneficia ambas as partes. “Por conta de diversos fatores ligados à questão de impostos e importação / exportação de obras, os museus brasileiros têm ainda lacunas de períodos em seus acervos, assim como obras de artistas estrangeiros. A possibilidade de expor obras de coleções particulares é muito importante para levar o conhecimento sobre as mesmas ao grande público. Sob a ótica do colecionador, além de seu papel de estimular o conhecimento e a acessibilidade, devemos também pensar na valorização de obras presentes em importantes mostras”, explica.
Xavier ressalta também que os museus, assim como as universidades, possuem muito peso em relação às definições de determinado objeto, inclusive o valor de mercado. “Museus se beneficiam se têm exposto um objeto que as pessoas desejam muito ver, ao passo que os artistas se beneficiam do prestígio que a instituição confere ao objeto, que por sua vez, também será revertido em dinheiro”.
Mas, em termos de investimento em arte, não é simples entender o que está em alta e o que tem futuro. “O mercado é muito permeável à mudança e se adequa rapidamente ao que a sensibilidade da época diz que vai estar em alta ou não. Dá para entender mais ou menos o que está em voga agora, mas é muito difícil prever o que ficará pra posteridade em termos de investimento. Posso dizer que a obra de uma artista consagrada sobreviverá, mas a obra de uma artista assim vale muito dinheiro, logo, não sei se seria tão viável em termos de investimento”, finaliza o historiador.