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A força latente do tédio e como superá-lo

Novas pesquisas sugerem métodos para atenuar o tédio e redimensionar nossas expectativas diante da realidade posta pelas circunstâncias da vida

Redação Culturize-se

Na vida buscamos constantemente emoção. Consciente ou inconscientemente. A experiência do tédio, entretanto, é uma constante tão verdadeira quanto essa primeira assunção. Sentir-se entediado está associado a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, menor desempenho escolar ou profissional e relacionamentos sociais mais frágeis. O tédio pode até levar as pessoas a ações prejudiciais, como abuso de substâncias, comportamentos imprudentes ou antissociais.

Essas experiências variadas de tédio e os impactos diversos que ele provoca demonstram que o tédio é um fenômeno complicado. O tédio também pode ser uma característica, com algumas pessoas mais propensas a ficarem entediadas do que outras, ou pode ser um estado temporário que vem e vai para todos.

Conceituando o tédio

O tédio é um estado mental caracterizado pela falta de interesse, motivação e envolvimento com o mundo ao nosso redor. Quando estamos entediados, podemos sentir inquietação, irritação e insatisfação. Também podemos experimentar sintomas físicos, como fadiga, letargia e falta de energia.

O fenômeno tem sido estudado há muito tempo por psicólogos, que identificaram várias explicações ou causas do tédio. Algumas pesquisas têm se concentrado no desejo por coisas novas. Por exemplo, quando as pessoas veem muitas imagens negativas seguidas, elas escolhem uma imagem positiva em seguida. Isso pode não ser surpreendente, mas ver muitas imagens positivas seguidas também pode levar ao tédio, e então as pessoas querem ver uma imagem negativa em vez disso.

Outro estudo recente também descobriu que os participantes classificaram seu humor como mais baixo após realizar tarefas repetitivas ou ter tempo para “descansar” sem ter nada para fazer. No entanto, a “novidade” não parece explicar completamente o tédio, pois há muitas experiências novas que as pessoas ainda consideram entediantes, e outras experiências que temos várias vezes sem nunca nos cansarmos delas.

Outras pesquisas consideraram a atenção como um aspecto fundamental do tédio, já que as pessoas frequentemente relatam que têm dificuldade em prestar atenção quando estão entediadas, ou começam a divagar ou a ter devaneios. Problemas com a atenção são particularmente relevantes para os impactos do tédio no trabalho ou na escola. No entanto, é difícil testar se a falta de atenção causa o tédio ou se é um dos efeitos do tédio.

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Foto: Pexels

Com base em pesquisas nessas frentes, surge um modelo de compreensão do tédio que sugere que ele ocorre quando há um descompasso entre o quanto desejamos estar mentalmente ou “cognitivamente” envolvidos em uma tarefa e o quanto estamos realmente engajados. Os autores usam o termo “goldilocks” para descrever essa ideia de ter um nível de envolvimento que é “adequado” e e o tédio como um sinal de que não estamos alcançando esse nível.

O modelo também é aplicado para explicar por que algumas pessoas ficam entediadas com mais frequência do que outras. Alguém pode ser propenso ao tédio se tiver expectativas irrealisticamente altas sobre o quão envolventes as tarefas serão, por exemplo, pensando que tudo o que fazem será divertido e significativo. Pessoas que desejam um nível de envolvimento muito alto ou muito baixo também têm mais probabilidade de ficarem entediadas, pois a maioria das atividades do dia a dia não corresponde a esses extremos.

O remédio para o tédio

Qual a aplicabilidade de toda essa teoria? O modelo goldilocks é um apelo ao realismo em sua concepção não filosófica. Ser realista e reconhecer que algumas tarefas são fáceis e repetitivas, enquanto outras são complexas e exigentes, significa que temos mais chances de combinar com precisão nosso nível de envolvimento com o que é necessário.

Há de se ponderar, ainda, a intensidade do engajamento para uns e para outros. Uma atividade solitária e relaxante, como ler um livro, pode ser altamente envolvente se o seu objetivo atual é relaxar, mas pode ser muito entediante se o seu objetivo é interagir com outras pessoas. Isso sugere que estar ciente de nossos objetivos e escolher atividades que estejam alinhadas com eles pode ser uma boa estratégia para reduzir a chance de ficar entediado. Mesmo quando não temos escolha sobre qual atividade devemos realizar, pode haver uma maneira de torná-la mais significativa.

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