“Trata-se de um modelo estatístico e matemático. A máquina não tem intenção de criar, criação é uma ação humana”, opina pesquisador da área
Por Mayra Couto
Para os artistas esse questionamento não tem oferecido perigo uma vez que há o entendimento, ao menos por ora, da necessidade de ações humanas no processo e alguns profissionais, inclusive não veem a possibilidade de pensar a IA como aliada e, sim como ferramenta: “Não seria uma cocriação, atrás de um modelo tem vários humanos. Você insere dentro do seu processo, delega funções para máquina. Para mim, o interessante é delegar algumas decisões do meu processo criativo e vou ajustando meu software. É um caminho muito interessante e que eu adoto”, comenta Sérgio Venancio, artista, professor no Inteli e pesquisador na USP.
Sobre o receio e até burburinho que surge em relação ao IA dominar e assumir funções desempenhadas por humanos, Sergio comenta em relação a arte: “A máquina não vai roubar nossos empregos. Artistas que são muito dependentes de produzir imagens comercialmente podem correr risco. Por exemplo, ilustrações podem ser pedidas a IA por diretores de arte, e colocar a função de ilustradores em risco. É importante que o mundo da arte responda a isso. Usando os modelos de forma consciente e ética”.
Por isso, profissões com funções que são facilmente automatizáveis, mais robóticas podem ser afetadas. “Resenhas de jogos, dados meteorológicos, informações diretas e que seguem um padrão, são facilmente automatizados. Porém, profissões que precisam de estratégia, articulação, conteúdos humanos, como resenha crítica são difíceis de serem automatizadas. Então, talvez esse processo gere uma elevação do senso crítico“, diz opina o Felipe Calegario, professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Já sobre as novas funções que podem surgir através do IA, o docente desmistifica um pouco: “A pessoa que entende as melhores descrições para gerar imagens e textos também está sendo chamada na internet de engenheiro de prompt, mas trata-se mais de uma competência do que uma profissão de fato. Por exemplo, se você quer usar um modelo, você precisa entendê-lo. Esse novo nome é mais marketing. O que essa pessoa faz é parecido com uma pessoa que usa estratégias de seo para buscar no Google, não é uma profissão em específico só para isso”.
A desmistificação do poder da IA
Uma preocupação de ambos os lados dos pesquisadores de tecnologia e também dos profissionais e pesquisadores da arte que já experimentam a Inteligência Artificial é que a informação sobre o real poder da IA seja desmistificada. Isso porque foi construído ao longo dos anos um imaginário em filmes de ficção científica de que a máquina em algum momento da evolução assumisse o controle e tomasse várias decisões sozinhas. E o que ambos os profissionais chamam atenção é que em todos os casos o modelo de IA precisa da ação humana, seja para programá-lo e muni-lo de referências, ou até para a criação de arte, através de escolhas de palavras chaves e de outras imagens apresentadas para o modelo que serão utilizadas como norte para a geração da nova imagem.
“É mais sobre tirar essa ansiedade e sim conhecer um pouco mais da tecnologia. As pessoas e profissionais da arte não precisam aprender a programar e, sim adquirir conhecimento de como a IA funciona. Trata-se de um modelo estatístico e matemático. A máquina não tem intenção de criar, criação é uma ação humana. Não vamos ser dominados pela máquina”, aposta Venancio.
Assim como explica o professor Filipe Calegario do Centro de Informática da UFPE: “Do jeito que estamos gerando imagem hoje, precisamos da ação humana para criar uma descrição, e apertar o botão para gerar a imagem. Ou seja, ainda depende da sensibilidade humana para criar as descrições. Ainda vejo como ferramenta que amplia a criatividade humana, não um criador do zero. Falar que a IA está fazendo arte é a mesma coisa de dizer que o pincel está fazendo arte. Para mim, precisa da sensibilidade humana, da necessidade de expressão e comunicação para fazer a ação. Eu vejo menos competição e mais cooperação entre IA e ser humano”.