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“Peter Pan e Wendy” mostra desgaste da Disney com o modelo de live-actions

Por Gabriela Mendonça

A história de Peter Pan já é uma velha conhecida: o menino que se recusa a crescer leva Wendy e seus irmãos para a Terra do Nunca, onde acabam enfrentando o malvado Capitão Gancho, que tem como missão derrotar o garoto. Tem crianças perdidas, o pó mágico da Sininho que faz todos voar, e a moral da história de que crescer não é tão ruim assim, e pode ser também uma aventura. 

Divulgação/Disney

O que, então, faz de “Peter Pan e Wendy”, novo filme que estreou no Disney+, algo novo? Muito pouco na verdade. O conto, originalmente publicado em 1911 por J. M. Barrie e depois transformado em uma peça de teatro, se baseia no forte laço entre Peter e Wendy: ele admira a garota e sua habilidade para contar histórias, e sabe que ela está chegando em uma fase da vida onde crescer é iminente. Portanto, surge com uma oferta tentadora, levá-la para viver na Terra do Nunca e não crescer jamais. 

Os dois criam uma conexão para que, depois, haja um conflito quando a menina começa a perceber que Peter é teimoso e egoísta. Mas aqui, a adaptação de David Lowery não consegue estabelecer uma relação que faça sentido, nem como amigos, ou antagonistas. 

A adaptação cinematográfica de 2003, “Peter Pan” trabalha essa ligação muito melhor. Embora seja um olhar mais tradicional para a história, tem mais sucesso em definir esse vínculo e suas implicações. 

Aqui, Peter (Alexander Molony) e Wendy (Ever Anderson) são separados pelos piratas assim que chegam na ilha, e um crê que o outro morreu. Quando se reencontram, nenhum parece realmente emocionado com a presença do outro, e fica difícil acreditar quando Peter afirma que achava que eles seriam amigos. 

Não existe nenhum laço real entre eles que não seja a negação da puberdade. Pelo contrário, o filme que tem como título Peter e Wendy não faz nenhum esforço para unir Peter e Wendy, embora se dedique em conectar ela com todos os outros: as crianças perdidas, Tigrinha (Alyssa Wapanatâhk) e principalmente o Capitão Gancho (Jude Law).  

Divulgação/Disney

Enquanto o protagonista some em determinados momentos, Wendy é guiada para cima e para baixo tentando salvar os irmãos? Voltar para casa? Proteger a Terra do Nunca? Não dá muito bem para saber, pois o roteiro é preguiçoso demais para desenvolver uma história coerente. Com 45 minutos de filme as crianças já se uniram, os irmãos foram salvos, e Gancho, derrotado, foge. 

Uma tentativa de terceiro ato começa então, com Peter e Wendy finalmente conversando, mas aí o filme já tem quase uma hora e não há mais interesse no que pode vir depois. O que é uma pena, pois a única parte onde “Peter e Wendy” se diferencia é no final, quando descobrimos mais sobre a antiga amizade do então James Hook com Peter, e a versão de cada um sobre como foram de amigos a inimigos mortais. 

Divulgação/Disney

Mas isso também já foi trabalhado em outra adaptação, “Peter Pan”, de 2015, e quando aparece no novo longa, já estamos caminhando para o conflito final. Nem Jude Law no papel do icônico vilão consegue salvar a história, e embora o jovem Alexander Molony se esforce para trazer alguma originalidade para Peter Pan, o material que tem para trabalhar é muito fraco. 

Há de se perguntar exatamente qual a pretensão da Disney com essa adaptação que, muito provavelmente, será esquecida assim que outra novidade chegar e que, em nenhum aspecto, supera qualquer outra versão. Parece ser mais um lembrete que os “live actions” da Disney deveriam chegar ao fim.

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