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Drama perene, trânsito precisa ser abordado como um problema de mobilidade

Fábio Montanari

Existe um meme circulando já há alguns anos, “one more lane will fix it”,  ou “mais uma faixa vai resolver”. Como todo meme, resume uma ideia que, às vezes, é difícil de se explicar com texto longo, mas  resume bem a falha dos projetos rodoviaristas nas grandes metrópoles no século XX. O fato é: o trânsito não é algo que se resolva, pelo menos não do jeito que as pessoas entendem como “resolver”.

É comum vermos em propagandas políticas, ou em reportagens, soluções ou súplicas para o problema do tráfego nas grandes cidades, a má notícia é que não há solução. Todas as tentativas de se resolver o trânsito no mundo, acabaram por piorar a situação. Cada rua aberta, cada avenida nova fez apenas com que as pessoas ficassem cada vez mais paradas no trânsito. Então, devemos desistir e abraçar o caos? Claro que não. Devemos apenas mudar o foco, o problema a ser resolvido não é o trânsito, mas sim a mobilidade.

Mais uma faixa vai resolver? | Foto: Reprodução/internet

Mas afinal, o que é mobilidade? A WRI Brasil (World Resources Institute) define mobilidade como a capacidade de chegar aos lugares necessários para a vida urbana, como trabalho, escola, parques, comércio, hospitais etc., ou seja, viabilizar as viagens essenciais para o exercício dos direitos básicos dos cidadãos. Mobilidade não é ter uma maneira de se deslocar, mas um sistema de possíveis modos de transporte. E que tenha qualidade.

O Brasil tem ficado (muito) para trás na questão de mobilidade. Uma pesquisa, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta que no Brasil, a classe mais pobre da população leva até 20% mais tempo se deslocando de casa para o trabalho. São Paulo, por exemplo, é a cidade com mais metrô no país, porém tem meros 104,4 km de extensão. Para comparar, a cidade do México, que começou a construção de suas linhas ao mesmo tempo que a capital paulista, tem hoje, 200,88 km, quase o dobro. Milão e Munique são cidades que tem a mesma extensão de linhas que São Paulo, mas com um oitavo da população.

Em uma cidade, em que quatro milhões de pessoas (maior que toda a população do Uruguai) se deslocam da Zona Leste para a região central todos os dias de manhã, e retornam às suas casas à noite, seria uma loucura achar que há alguma chance de não haver trânsito. Chamamos esse deslocamento massivo e diário de “migração pendular”.

Em São Paulo, quem mais sofre com a falta da mobilidade são os moradores da Zona Leste, que perdem 3 horas diárias com deslocamento, é o que mostra a pesquisa “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana”, do Instituto Cidades Sustentáveis (ICS). Se nessa região há tanto deslocamento para as regiões centrais, devemos primeiramente descobrir porque há tamanha demanda para analisar como prevenir  (parte) desse movimento.

Há muito já se concluiu que a Zona Leste, é a região com maior população, porém aquela com menos emprego. É por isso que mobilidade não significa apenas transporte, mas algo mais estruturante da cidade. O Metrô por exemplo, não é apenas um meio de transporte, mas um eixo de desenvolvimento urbano; ao criar uma estação, uma nova economia surge no bairro, novos polos, novos postos de trabalho, novos incentivos de crescimento, e assim, evita-se parte dos deslocamentos. O Plano diretor de São Paulo, criou uma série de incentivos para eixos com transporte público para desenvolvimento em locais estratégicos, isso é mobilidade.

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