Patrícia Froelich
A ideia que estrutura esta coluna é louvar o poder, a beleza, a força, as qualidades, os atributos, as lutas e as conquistas das mulheres. Reconhecendo, para tanto, que há diferentes mulheres e formas de sê-lo no mundo; já dizia Beauvoir (1980) que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Logo, algumas características que julgamos traços mais íntimos de nossa personalidade também recebem moldes culturais. Enquanto uma boa socióloga, tenho como mantra que nada é dado e sim tudo é construído. Logo, a palavra natural sempre faz meus ouvidos coçarem. Então, qualidades que listamos como sendo femininas, merecem passar por um crivo de reflexão e ao serem, porventura, verbalizadas, que façam sua ouvinte florescer e não murchar; que espalhem luz e não insegurança.
Há elogios que são empregados para diminuir, tal como ‘você é linda, seria mais se fosse magra’, ‘ você é forte, tem traços masculinos’, ‘ rosto bonito, ficaria mais se fosse com cabelo liso’… Para a sociedade, o que é uma boa qualidade feminina? Para você que me lê, qual sua qualidade mais louvável?
Qualificar, elogiar ou louvar sempre se aproxima de uma linha entre confortável e adequado versus constrangedor e desnecessário. Partir da indagação ‘como eu me sentiria ouvindo tal coisa?’ costuma ser uma boa premissa inicial. Se ficar em dúvida sobre algo a ser dito, escolha o silêncio, este último é a escolha mais sábia em múltiplos momentos. Nossas palavras ditas ou escritas tem poder de salvar ou ofender, usá-las com sabedoria é nosso desafio.
Quando confabulo acerca de força e essência feminina lembro do potente escrito da psicanalista Clarissa Pinkola Estés, a saber “Mulheres que correm com os lobos”, livro que me manteve nutrida no período da pandemia da Covid-19 e que propõe o resgate da nossa mulher selvagem, estritamente associada às camadas mais profundas da psique. O livro em relevo proclama um glorioso não a domesticação de nossa essência feminina selvagem e livre. Para ela:
todos os homens e mulheres nascem com talentos. No entanto, a verdade é que houve pouca descrição dos hábitos e das vidas psicológicas de mulheres talentosas, criativas, brilhantes. Muito foi escrito, porém, a respeito das fraquezas e defeitos dos seres humanos em geral e das mulheres em particular. No caso do arquétipo da Mulher Selvagem, para vislumbrá-la, captá-la e utilizar o que ela oferece, precisamos nos interessar mais pelos pensamentos, sentimentos, e esforços que fortalecem as mulheres e computar corretamente os fatores íntimos e culturais que as debilitam (ESTÉS, 2018, p. 23).
Em geral, as qualidades e virtudes femininas são associadas a força e coragem. Tal premissa não está incorreta, outrossim, precisamos lembrar que ninguém veste a capa heroica toda hora do santo dia. As mulheres não podem guerrear sempre, também precisam de cuidado, amor, carinho, lazer, leveza, tarefas domésticas divididas e prazer. Seja educado/a e gentil sempre que tocar/confrontar outra alma, ou pelo menos intente sê-lo.
Ao falar em livros que alicerçam a temática transversal desta coluna, merecem relevo mais dois escritos [poéticos]. Um, da autora brasileira Flávia Campos (2020), intitulado “Coragem- Substantivo feminino”, destinado para mulheres que se atrevem, com 177 poemas inspirados e concomitantemente promotores da coragem feminina, afinal “ Somos mosaicos infinitos/ das infinitas mulheres/ que lutam pelo direito/ de ser quem são/ Nascentes de rio/todas nós” (p. 104). O outro, de uma socióloga e poetisa oriunda de Malawi, Upile Chisala (2020), “eu destilo melanina e mel”, com palavras que acarinham, fervilham, incitam, questionam: “Por que vocês têm tanto medo de amar uma mulher forte?” (p.75).
Qual mulher -escritora- você faria menção? Quais qualidades genuínas elencaria a respeito de uma mulher que admira? Você consegue referendar o limiar entre elogio e inconveniência? Por gentileza, deixe um comentário sobre este escrito, irei amar lhe ler também!
Gratidão pela sua leitura. Até a próxima semana?!