Por Reinaldo Glioche
O cinema independente americano tem certo fascínio por personagens destrutivos e repletos de vícios. Nesse filão, o alcoolismo parece ter um lugar de destaque, já que é elemento central de muitos filmes, como “To Leslie”, que valeu a Andrea Riseborough, excelente atriz britânica com bom trânsito em produções hollywoodianas, uma surpreendente indicação ao Oscar de atriz.
Dirigido de maneira correta por Michael Morris, “To Leslie” é um filme de ator; isso quer dizer que ele se emancipa pela força da atuação do (s) protagonistas. Aqui o registro de Andrea Riseborough é que move o longa adiante, lhe aquece e legitima.
A atriz dá vida a Leslie do título, uma mulher que ganhou um prêmio de cerca de U$ 150 mil e desperdiçou tudo. Ela virou uma espécie de folclore na cidadezinha em que mora e não no bom sentido. Com o fracasso como companheiro mais fiel, Leslie aliena todos da sua vida, inclusive seu filho, que sofreu um bocado em face desse comportamento passivo-agressivo da mãe.
Quando o filme começa, Leslie está sendo despejada de sua casa e sem emprego e moradia ela busca seu filho, a quem não via há algum tempo. Não vai demorar, é claro, para ela comprometer essa relação já tão cheia de feridas e ser obrigada a partir pra outra.
É durante esse flagelo existencial sem muito norte que aparece Sweeney (Marc Maron, um expoente da cena indie americana), um gerente de motel solitário que se compadece de Leslie e resolve lhe dar uma chance. Mas ela tem estrutura emocional o suficiente para se agarrar a ela?
É neste ponto que o filme engata outra marcha e vira algo sobre dois personagens esquisitos, maltratados pela vida – um que precisa cuidar e outro que precisa ser cuidado -, que se encontram e demoram a perceber que um pode ser a salvação do outro.
Essa é uma reconfiguração comum no cinema independente americano, mas que Maron e Riseborough abordam com tanta naturalidade e dor que a audiência é incapaz de resistir.
“To Leslie” é uma experiência muito dignificante enquanto cinema, embora sua protagonista seja uma pessoa complexa e complicada, o longa jamais a julga e dá a Riseborough todos os elementos necessários para que ela faça dessa experiência algo especial.