Patrícia Froelich
Esta é minha décima terceira coluna e confesso que senti dificuldades em lhe estruturar. É desafiador comemorar, conhecendo na pele, as violências contra as mulheres. Estas podem ser, sabemos, em nível físico e simbólico. Mas ainda assim, a ideia aqui é rememorar as histórias e vitórias e saboreá-las. Logo, temos um texto matizado, criativo e com sabores. Se a deusa da inspiração nos permitir, sairemos dessa página acreditando em dias bons e ainda melhores. Ao olharmos para o passado, com as lentes da observação histórica, veremos mudanças poderosas. Repito, o que comemorar neste mês de março? O que você, leitor(a), tem para bradar?
Ventilando ideias surgem âncoras como conquistas femininas, coletivas, sociais, políticas, legislativas, educativas, reprodutivas, entre outras. Quais direitos gozamos na sociedade contemporânea? Como mulher, o que você mais preza? A liberdade que temos, já existia anteriormente? A potente e crítica nova geração, nos revigora? Trabalhar fora do âmbito doméstico é motivo de celebração? Qual o termostato da luta feminina/feminista?
Nós- mulheres e sociedade consciente- vamos olhar para o dia internacional da mulher com olhares críticos e falar sobre o que falta, o que não está bom, quanto caminho há para trilhar em prol da equidade. E tais agruras são amargamente reais, outrossim, sobrelevar as conquistas nos movimenta. Quero sinalizar que a academia brasileira começa a abraçar teorias decoloniais e questionar hegemonias de pensamento; celebro as novas gerações de mulheres defendendo seu direito ao corpo; festejo a sororidade expandindo em todos recantos; promovo ações de não-violência; comemoro questionamentos aos salários díspares; enalteço a escritura e propagação de mulheres que marcaram a história e outrora foram apagadas…
Hoje a mulher tem mais direito de ser o que quiser, inclusive dona de casa se assim desejar. Tem direito a fazer ciência, escrever e propagar sua voz no mundo; se sentir bem nos espaços que estiver; ingressar na política e ocupar cargos de poder; a mulher tem direito de gestacionar ou não; tem possibilidade de buscar estudo acadêmico…
Questionei algumas amigas sobre o tema desta coluna e seus contornos, muitas não tiveram ideias. Mas, minha irmã (Graciele Froelich, 18 anos) mandou um textinho para contribuir -eis a sororidade materializada:
Lutamos a cada dia que saímos de casa sozinhas, enfrentamos um emprego novo ou até mesmo um passeio fora do comum, mãos bobas e palavras idiotas mexem com a gente e muitas vezes nos calam. Lutar pelo que? Por que das flores nesse dia e nos outros, amargura? Somos feitas de curvas e de entre linhas, feitas de olhos profundos e mentes brilhantes, feitas de amor e cuidado, somos feitas de várias histórias e talvez de uma grande liberdade que nossas antepassadas não tiveram… somos feitas de alma que brilha mesmo tão machucada, somos feitas de coragem e de persistência, mas precisamos sempre lembrar que também somos sentimentos. Comemorar a nossa força, por suportar tanto e continuar aqui. Comemorar a cada voz e atitude, que mesmo contrariada, continuou e teve vitória[ A sua vitória!].
Nós vestimos a armadura de guerreiras todo santo dia, mas despi-la também é importante, pois ninguém aguenta guerrear 24 horas por dia, conforme excerto escrito pela Graci acima. O que você responderia se lhe questionasse o título desta coluna? Quais exemplificações lhe visitam a mente?
Este texto não se propõe a trazer biografia(s), mas quero sobrelevar a vida e obra da gigante cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009), cuja passagem pela terra sublinhou a força de sua ascendência ameríndia e toda potência da mulher latino-americana. A cantora teve um casamento que se esfarelou, uma carreira com prêmios e que ecoa até os dias atuais, bem como militância e atravessamentos políticos. Se você ainda não lhe conhece, urge fazê-lo neste exato momento através de suas canções disponíveis no youtube. Qual mulher lhe inspira e que você propagandeia sem cobrar honorários?
Também, quero indicar a poetisa Rupi Kaur, com escritos sobre amor, perdas, abusos, feminilidade, migração e a busca pela (auto)cura. Rupi é uma mulher de origem indiana que nos ensina a caminhar pelas noites escuras da alma com muita coragem e poesia (escrita e calada). Seus livros maceram nosso perfume mais recôndito e o fazem propagar no mundo ao encontro de quem precisa, de quem está apática(o)! Repito, como fechamento: o podemos/devemos/precisamos comemorar neste mês de março? Pausa para pensar. Obrigada pela sua leitura! Por gentileza, deixe seu(s) comentário(s), críticas, sugestões. Comemore seu dia internacional todo dia. Viva as mulheres que tem coragem para ser todas as facetas que lhe compete o existir. Seguimos!