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“Geração anos 80”: um CD que é uma cápsula do tempo

Tom Leão

Dando uma geral nos CDs, coisa que faço, eventualmente, para ver quem vai ou fica na casa, eis que me deparo com um disco da coleção Warner Arquivos, chamado ‘Geração Anos 80, volume 1’. Ele compila nove compactos simples (singles) lançados pela Warner do Brasil entre 1981 e 1984. A maioria deles, produzidos por Pena Schmidt, conhecido pela galera como Peninha, um camarada gente fina toda vida. A seleção em questão, foi feita por Charles Gavin (o ex-Titã e também um dos maiores preservadores da memória musical brasileira recente) e remasterizados por Gavin e Ricardo Garcia, a partir das fitas originais, no estúdio Magic Master, no Rio de Janeiro.

Ouvir o CD, me transportou para um tempo mágico, no qual o novo Rock Brasil se descortinava, e cada um dos artistas que surgiam, me despertava uma imensa curiosidade. Nada tinham a ver com a MPB de sempre. Era outra coisa. Onda nova. O CD abre com a dobradinha ‘Tesouros da juventude’ e ‘Areias escaldantes’, do Lulu Santos. As duas faixas, foram produzidas por Liminha, e lançadas num compacto em 1981. Para mim, muito mais do que Blitz ou Gang 90, este single foi o marco zero do novo Rock Brasil. Lembro o impacto que tive em ouvir Lulu cantando as duas músicas. Primeiro, assim, no compacto. Depois, em seus primeiros shows, no Teatro Ipanema. A primeira, é assinada por Lulu e Nelson Motta. A segunda, só do Lulu, chegou a dar nome ao primeiro filme new wave brasileiro, do Francisco de Paula, lançado em 1985, com Lobão e Titãs no elenco. Lulu, não.

Reprodução/Internet

Os dois próximos singles (lançados em 1983), também são de nomes cariocas: as bandas Brylho e Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens (depois, Kid Abelha e só Kid). O Brylho (que começou como Brilho da Cidade), que tinha o vocal soul de Claudio Zoli, aparece com o seu maior hit, ‘Noite do prazer’ (aquela do ‘trocando de biquini sem parar’, que, atualmente, está num anuncio na TV) e a funkeada ‘Cheque sem fundo’ (que tem uma vibe a la Tim Maia). Este, foi produzido por Jodele Larcher (depois, diretor e videomaker de renome) e Leninha Brandão (posteriormente, empresária de Lobão, entre outros). Fecha a parte carioca, o Kid Abelha, com ‘Pintura íntima’ e ‘Por que não eu?’, dos tempos da Fluminense FM, em que o ex-integrante original, Leoni, assinava as músicas com a sua (então) namorada, a vocalista Paula Toller. A segunda música, também tem o dedo de Herbert Vianna, dos Paralamas. Estas, foram produzidas por Gregório Nogueira.

Então, chegamos na parte paulistana, tudo com produção de Peninha. O Magazine, do saudoso Kid Vinil, comparece com o compacto com o seu maior sucesso, ‘Sou boy’ (e o lado B, ‘Kid Vinil’, aquela do refrão ‘O herói do Brasil’). ‘Sou boy’ (1983), na época, fez tanto sucesso, que foi usada até em anuncio de automóvel (‘Sou Chevy’). Nunca mais alcançaram o mesmo patamar; e Kid, teve várias outras bandas.

Na sequência, vem uma dobradinha inusitada, para a época: duas bandas eletrônicas paulistas: Agentss (do lendário Kodiak Bachine), e Azul 29. Nenhum destes compactos, alcançou o sucesso dos nomes citados aqui. Mas, marcaram pela diferença. O Agentss, com ‘Professor digital’ e ‘Cidade industrial’ (1983), já tinha lançado um compacto, independente, antes deste. Já Azul 29, vem com ‘Video-game’ e ‘Teu nome em neon’ (1984). As letras destas bandas, emulavam temas modernos, para a época, como ‘digital’ e ‘games’.

O próximo compacto, traz a banda que fez o maior sucesso de todas aqui, em sua estreia: o Ultraje a Rigor. Era impossível ficar impassível frente a dobradinha ‘Inútil’ e ‘Mim quer tocar’ (1983), que brincavam com o momento político brasileiro (ainda estávamos sob a ditadura militar, bom lembrar) e com o brasileiro em si. As letras, do vocalista Roger Rocha Moreira, ainda funcionam como se escritas hoje. Quando o primeiro LP (álbum) saiu, foi um sucesso estrondoso.

Depois, vem uma banda paulista até a raiz, Ira (então, sem a exclamação no nome), com uma pegada mod/punk, apresentam ‘Pobre paulista’ e ‘Gritos na multidão’ (ambas as letras, do onipresente guitarrista Edgar Scandurra, que tocou com várias bandas da época). O vocalista, Nasi Valadão, ainda assinava como Nazi (!). O baterista da banda, era o próprio Charles Gavin que, depois, iria para o Titãs, trocando de lugar com o André Jung, que veio para o Ira!

Por fim, mas não por último, vem os Titãs, com o seu seminal compacto, ‘Sonífera ilha’ e ‘Toda cor’ (1984), quando a banda ainda tinha ecos de sua primeira encarnação, Titãs do ié-ié-ié, e fazia músicas um tanto mais ‘divertidas’ e usavam um visual new wave (colorido). As duas faixas, ainda contavam com a mão do falecido poeta Ciro Pessoa nas letras. Ciro, depois, formou o Cabine C. Ainda tenho a maioria destes compactos (que, foram os últimos lançamentos da Warner no formato). Peninha, assina um texto na contracapa, situando o momento e os artistas. E, o mais legal é que, metade destas bandas, ainda existem. E se tornaram muito grandes. E, sim, este CD vai ficar na coleção, é claro. 

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