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Há saída para a direita brasileira no pós-Bolsonaro?

O dilema está posto e se o bolsonarismo não precisa mais de Bolsonaro, como a direita moderada fica nesse cenário em que Lula volta ao protagonismo da política brasileira?

Por Nathan Vieira

Desde os resultados da última eleição presidencial, muito se especula a respeito do futuro que aguarda o movimento de direita no Brasil. Afinal, levando em consideração que o ex-presidente Jair Bolsonaro já não está mais no poder, é possível que o bolsonarismo perca um pouco de força e de sua influência? Como esse cenário se desdobra nos próximos anos?

Segundo Ludolf Waldmann Júnior, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), é possível observar duas direitas no Brasil: uma tradicional, com raízes muito antigas e que tem expressão em diversos partidos, associações e grupos sociais que povoam o espectro político da centro-direita, e as chamadas Novas Direitas, ou radicais de extrema-direita, que são parte um fenômeno global do século XXI do qual o Bolsonarismo é hoje a maior expressão.

As pesquisas deste fenômeno sugerem que as novas direitas nascem no Brasil em fóruns de internet e redes sociais em meados dos anos 2000, ganhando sua primeira projeção pública com as grandes manifestações de junho de 2013 e tendo trajetória ascendente até a eleição de Bolsonaro em 2018. 

Foto: Matheus Câmara da Silva

O bolsonarismo perdeu o poder?

Na opinião de Ludolf, hoje, o bolsonarismo não precisa mais do Bolsonaro. “As ideias que ele encampou já ganharam tamanha expressão, dimensão e força própria no cenário político, que sequer precisam do ex-presidente à sua frente para continuarem relevantes”, observa. O especialista alerta que o cenário atual conta com um bolsonarismo “acuado”, tanto pela resposta do restante da sociedade e dos poderes ao episódio de Brasília, como pelo fato de que ainda carecem de uma nova liderança que substitua o ex-presidente.

Em contrapartida, para Leonardo Rossatto, cientista social, especialista em Políticas Públicas e analista de conjuntura política, o bolsonarismo perde sua força sem a máquina pública. Todavia, não é sensato menosprezar a força que o movimento ainda resguarda, considerando suas fontes de financiamento. “Hoje é possível afirmar que o bolsonarismo tem muita dificuldade de permanecer como a opção de oposição ao governo Lula”, opina.

Ludolf diz que uma das grandes conquistas da nova direita/bolsonarismo foi a capacidade de mobilização popular, o que significou inclusive que tirou uma quantidade considerável do eleitorado que comumente votava na direita e centro-direita. Em sua análise, apesar de estar momentaneamente em baixa, este eleitorado é ainda consideravelmente significativo.

O professor diz que a direita se depara com um dilema, já que é um público ainda muito radicalizado, “Qualquer movimento para conquistá-lo significa ter que se atrelar ao bolsonarismo em alguma medida, mas se o fizer muito, corre risco de perder apoio entre os seus eleitores mais moderados ou sua capacidade de ação mais pragmática”, supõe.

Enquanto isso, Leonardo menciona que é importante para a direita conseguir criar opções não bolsonaristas, uma vez que o bolsonarismo tem um alto índice de rejeição. “Se a direita conseguir formar um quadro importante e competitivo numa eleição presidencial que tenha menor rejeição que o Bolsonaro, se surgir uma liderança de direita mais comedida nesse sentido, com certeza vai ter mais chances que o Bolsonaro em um próximo processo eleitoral. Hoje, o que afasta o Bolsonaro da sua viabilidade é a sua enorme rejeição”, analisa o cientista político. 

O futuro da direita no Brasil

Segundo Ludolf, trata-se de um cenário muito difícil, principalmente para a centro-direita, que foi completamente atropelada pelo fenômeno do Bolsonarismo em 2018 e nunca mais se recuperou. “Algumas lideranças da centro-direita, como Simone Tebet, estão hoje no governo Lula e ainda não é possível prever o seu comportamento. Ainda é cedo para pensar nesses nomes, até porque a definição depende muito dos sucessos e insucessos do governo Lula nos próximos anos”, conclui.

Foto: Rafaela Biazi/Unplash

Na visão de Leonardo, estão melhor posicionados para conseguir retomar esse discurso de direita hoje no Brasil partidos como o próprio União Brasil, que apesar de fazer parte do governo Lula no momento, tem um grupo oriundo do Democratas, que historicamente era de oposição ao Lula. O especialista observa um grupo saindo do próprio PL, e menciona que o MDB também pode gerar nomes nesse sentido. Já o PSDB, Partido Novo e Cidadania diminuíram notavelmente nas últimas eleições. “Esses partidos são ideologicamente mais coesos, porém hoje tem menor tamanho, menor robustez para sustentar candidaturas majoritárias de direita que sejam viáveis”, estima.

Segundo o cientista político, no pós-bolsonarismo, em primeiro lugar é muito difícil se desvincular do Bolsonaro, então por enquanto a principal força de direita do país é o ex-presidente.  “A verdade é que haverá uma tentativa para que nomes possam ter esse protagonismo. Nomes como o próprio Sérgio Moro, quem vier indicado pelo MBL, nomes que desgarraram dos movimentos de extrema direita bolsonarista e tentam trilhar caminho próprio”, calcula.

Ainda assim, o cientista analisa que seja muito difícil alguém ter condições de tocar sozinho a direita no Brasil, especialmente porque é impossível considerar qualquer coisa de direita no Brasil sem considerar o enfrentamento ao bolsonarismo ou a adesão ao bolsonarismo. “Nenhum desses dois movimentos será feito por um líder sozinho. A direita só vai conseguir ou superar o Bolsonaro ou vencer o bolsonarismo com um trabalho conjunto, um trabalho que não necessariamente seja galgado em um nome só, e nenhum líder sozinho, por mais relevante que ele seja, vai conseguir fazer isso”, pontua.

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