Fala-se bastante que a Faria Lima quer isso e aquilo, mas ninguém foi conversar com ela para tirar isso a limpo. Até agora.
Edson Aran
ARAN: Obrigado por aceitar a entrevista, Faria Lima. Como você está?
FARIA LIMA: Cheia, muito cheia. É ônibus, carro e motoboy. Motoboy, então, parece pernilongo, tem pra todo canto. E todo mundo buzina, xinga… olha, é um stress. Eu preciso de férias.
ARAN: E você consegue tirar férias?
FARIA LIMA: Claro que não! Eu sonho com isso, mas quem vai ficar no meu lugar? A Paulista? Até parece que ela dá conta…
ARAN: Com a volta do Lula ao governo, muita gente está dizendo que a “Faria Lima não colabora”, a “Faria Lima quer isso”, a “Faria Lima quer aquilo”. Afinal de contas, o que você quer, Faria Lima?
FARIA LIMA: Olha, se cobrirem os meus buracos, já está bom. O trânsito, eu sei que não tem jeito. É igual resolver desigualdade social e ter crescimento econômico ao mesmo tempo… todo mundo diz que vai fazer, mas ninguém consegue. Só voo de galinha. Eu estou aqui desde 1960, meu filho. Já vi de tudo. Então se tapar os buracos, pintar o meio-fio e cuidar do canteiro central, eu já estou satisfeita…
ARAN: Tá, mas peraí, de uns anos pra cá, falam que a Faria Lima é culpada por tudo de ruim que acontece no Brasil. Alguma coisa você deve ter feito, não é possível…
FARIA LIMA: Eu?! Eu não fiz nada. Isso é intriga da Paulista, aquela vagabunda. É coisa dela e da Marginal Pinheiros. As duas adoram falar mal de mim porque somos paralelas, entende? Eu não tenho problema com a Rebouças e a Cidade Jardim, por exemplo. A avenida Brasil é paralela também, mas fica na dela. Rua metida… insuportável… mas pelo menos não me enche o saco. Já a biscate da Paulista…
ARAN: Hã… olha, perdão, mas esse é um site de família e, bem certas palavras…
FARIA LIMA: Tá bom, tá bom, tá bom. Agora não se pode falar mais nada, né? Esse século 21 é um saco. Não é “biscate”, é “vadia”. Vadia, pode?
ARAN: Hã… também não pode, mas vamos em frente. Você não se incomoda com esses prédios espelhados monstruosos em cima de você?
FARIA LIMA: Tudo brega, né? Um monte de “Trump Tower wannabe”, mas o que eu posso fazer? Eu sou uma avenida, não sou uma crítica de arquitetura. Eu preferia casarões e prédios do Artacho Jurado, queria ter mais árvores, mais parques, mais praças… mas estou em São Paulo, né? A especulação imobiliária manda nisso aqui.
ARAN: Você vai do bairro de Pinheiros até o Itaim, qual parte do seu corpo você gosta mais?
FARIA LIMA: Eu sou eclética. O Largo da Batata é agitado e ali perto tem o Mercado de Pinheiros, com produtos ótimos. Mas eu também gosto do Shopping Iguatemi, que é chique e tem a Livraria da Travessa, a mais bonita da cidade. O Museu da Casa Brasileira também vale uma visitinha. Depois começam as “Trump Towers” e… bem… aí vai quem quer.
ARAN: Muito obrigado, Faria Lima. Você quer mandar um recado pra alguém?
FARIA LIMA: Eu queria mandar um recado pro prefeito de São Paulo… você sabe o nome dele?
ARAN: Nome? Do prefeito? Não… alguém aí sabe? Não? Ninguém? É… ninguém sabe…
FARIA LIMA: Então não adianta mandar recado, né? Valeu.