Patrícia Froelich
Nesta coluna vou falar acerca de um processo de luto, é assim que lido com término de relacionamento. Para a dor passar é preciso vivenciá-la! Ao finalizar um casamento que já ia mal das pernas há algum tempo, vários sentimentos vêm à tona na minha vida. É marcante o contraste entre a alegria do começo do enlace e a dureza e rispidez de sua finalização. No começo se divulga em toda parte, mas o fim é pouco anunciado, quase resguardado. Final de relacionamento dói, mas faz parte da vida e a maioria das pessoas já degustou esse prato sem sabor.
Nesta última semana, o fim foi oficializado com meu parceiro pegando suas coisas e saindo do apartamento, sem dizer uma palavra, assim como estivera nas últimas duas semanas. O silêncio dói. Os olhares que não se cruzavam mais doeram. Doeu: os ciúmes; as contas que ficaram; os planos que ruíram; o corpo contraturado; tudo que poderia ter sido e não foi; o choro copioso; a aliança perdida; os objetos abnegados e descartados… Ora faço deste escrito pomada, eu sei que o flanco aberto se estancará! Viver pressupõe carregar emoções densas e transcendê-las.
Como foi para você seu último término? Confabula como poderia ter sido diferente? O que é o amar no final do dia? É possível o relacionamento acabar e o amor permanecer? A mágoa se dissolve com o tempo? Mais espaço na cama é solidão ou solitude? Como se curar de relações conturbadas? É possível amadurecer pela dor? Agora é a hora de selecionar uma playlist de sofrência? O que aprendemos com os erros? Como discernir entre sentimento e dependência emocional? Almas gêmeas: realidade ou ficção?
Eu me permito vivenciar a dor e resmungar. Minha estratégia para não sucumbir é buscar subterfúgios, sendo eles comidas, passeios, foco no trabalho, acender incensos, limpar a casa, ficar no tiktok, comprar um sabonete novo na farmácia e sentir uma nova experiência olfativa. Qual a sua rota de fuga quando tudo se torna turno? A vida adulta nos exige digerir as mazelas progressivamente. Ninguém é fortaleza sempre!
Penso em tirar um ano sabático, retomar a terapia, cuidar de mim e restabelecer as finanças usurpadas. Pretendo seguir acreditando no amor, mesmo que agora tal sentimento esteja macerando minha alma. A vida se desenha com altos e baixos, apesar dos dissabores sigo crendo que ela é fantástica. Cada dia é uma nova oportunidade de aprender, de olhar para trás com uma lente professoral sobre nossas próprias ações. É no erro que mais aprendemos; concorda? Amor, no final do dia, é para os(as) corajosos(as). O final não feliz é a mais pura verdade da existência. Recome-çar!
Coração partido, quebrado, estilhaçado. Desilusões amorosas fornecem substrato para arte. Roda na minha cabeça a obra interpretada por Zé Ramalho:
Quanto o tempo o coração
Leva pra saber
Que o sinônimo de amar
É sofrer
No aroma de amores
Pode haver espinhos
É como ter
Mulheres em milhões
E ser sozinho
Na solidão de casa
Descansar
O sentido da vida
Encontrar
Quem pode dizer
Onde a felicidade está…
Término me remete a filosofia budista de que desapegar evita sofrimentos maiores. Sigo tentando aplicar tal conhecimento teórico em minhas resolutivas pragmáticas. O que você vem pleiteando? Quantas vezes já alterou a rota?
Obrigada pela sua leitura atenta! As mensagens dessa coluna são: ame sempre; términos fazem parte da vida; a dor passará; todo relacionamento nos traz aprendizados; do barulho tentamos fazer música; o final nem sempre é o ‘e foram felizes para sempre’; viver implica deixar doer:
Thank you for sunshine
Thank you for rain
Thank you for joy
Thank you for pain
It’s a beautiful day-ay-ay-ay-ay
It’s a beautiful day-ay-ay-ay
Até a próxima semana?