Jonathan Pereira
Patrícia Poeta assumiu o “Encontro” no lugar de Fátima Bernardes em julho de 2022 e, em 6 meses, conseguiu superar o turbilhão de críticas diárias e se firmar no comando da atração matinal da Globo.
O desafio era grande: o formato, bastante saturado pelos dez anos no ar, parecia estar na hora de se aposentar. A emissora aproveitou a troca de bastão para inverter o horário da atração com o “Mais Você”, de Ana Maria Braga, com a justificativa de que a pegada jornalística do “Encontro” seguraria o público vindo do “Bom Dia Brasil”.
A mudança mostrou-se acertada já que muitas vezes, para não perder a liderança para a Record, Ana Maria era obrigada a deixar parte de suas pautas de lado para abrir espaço ao jornalismo. Passado o estranhamento e o lamento do público de não ter mais o Pensamento do Dia da rainha das manhãs começando seu dia às 9h30, há de se reconhecer que ficou melhor assim.
O “Encontro” estreou com polêmica, já que muita gente entendeu pela maneira que a Globo comunicou que Manoel Soares e Patrícia teriam o mesmo peso na apresentação quando, na verdade, ele seria equivalente aos “parceiros” que Fátima teve – como Lair Rennó e André Curvello. Para piorar, só o nome dela aparece embaixo da logo do programa, frustrando quem acreditou que seriam dois apresentadores.
Uma metralhadora de críticas tomava as redes sociais diariamente: haters esperavam qualquer deslize – como uma interrupção de fala ou um olhar mais seco – para acusá-la de ofuscar o colega. Na prática, Manoel tem mais espaço que os antecessores, e sabe se colocar quando quer, passando longe de mero coadjuvante.
Outro ponto que pegam no pé é que Patrícia sempre dá um jeito de contar algo sobre si ou fazer referência a uma vivência sua, não importa qual seja o tema. A maioria faz isso por egocentrismo, mas há quem tenha o hábito por simplesmente achar que está acrescentando ao assunto. Em TV, no entanto, acaba soando como a primeira opção.
Ainda teve muita gente que apostou que a atração não voltaria ao ar após a primeira fase da Copa do Mundo, quando foi suspensa para a exibição dos jogos. Por tudo isso, não deve ter sido fácil estar na pele da apresentadora nos primeiros meses da nova missão.
Dois fatores a fizeram dar a volta por cima. Patrícia não esconde sua felicidade em comandar o “Encontro”: definitivamente, ela queria um programa para chamar de seu e todos os dias demonstra estar contente de estar ali. E adora a plateia, parecendo que seu sonho era ter um programa de auditório: conversa, enaltece, diz que usa roupas que ganhou do público… se tem alguém que acorda feliz para trabalhar, parece ser Patrícia Poeta.
Com jornalismo na dose certa – ao contrário de seu concorrente, o “Hoje em Dia”, que exagera na dose -, o programa está ágil sem ser demasiadamente chato. Independentemente da sobrevida ganha, há pontos a melhorar, como se esforçar para dar novas roupagens a temas muito revisitados semanalmente e que dão a impressão de mais do mesmo, como racismo, feminismo ou violência, além de se reinventar para não ficar meses dependente de “Big Brother Brasil” ou de fenômenos como “Pantanal”.
A Globo parece contente com os resultados, mas não deve se acomodar. A troca de cenário, de tema de abertura e inserção de novidades é mais que bem-vinda. Caso contrário, crescerá o número de defensores de que Ana Maria Braga deveria ocupar o horário completo das manhãs com o “Mais Você”.