Edson Aran
Boa noite, senhoras e senhores. Estamos de volta ao suntuoso teatro Tiririca de Artes e Ciências Audiovisuais para a entrega do 857º Prêmio Aran para o melhor e o pior de 2022.
Semana passada, os filmes foram devidamente homenageados e a premiação pode ser conferida nesse link aqui.
Agora vamos falar das produções que assistimos no sofá da sala. Você não precisa sair de casa, enfrentar congestionamento, deixar um Bolsa Família no estacionamento e entregar um rim para conseguir um balde de pipoca com coca-cola. Quando, mesmo no conforto do seu lar-doce-lar, você abandona uma série é porque a coisa ficou feia.
Mas chega de blábláblá e vamos aos prêmios da noite.
Prêmio “Desconstruindo tudo”
Vivemos uma época de desconstrução selvagem nunca vista na história – com exceção das décadas de 10, 20, 30, 60, 70, 80 e 90 do século passado. Os anos 10 do 21 também foram ok. O século 18 é hour concours, mas o 16 não fez feio e o 13 também mandou bem… Opa, perdão, leitor, me perdi aqui.
Como eu dizia, a desconstrução é o novo preto e algumas séries apostaram em roteiros desestruturados e confusos, como se fossem um filme moderníssimo do Jean Luc-Godard feito há 60 anos.
As finalistas são:
“Irma Vep”
“O Urso”
“1899”
“A Escada”
E o prêmio “Desconstruindo tudo” vai para… “O Urso”, da StarPlus, que mostra um monte de gente gritando e tropeçando, como se fosse o finado governo Bolsonaro. Ainda bem que acabou.
Vamos aproveitar essa ocasião festiva para entregar o prêmio extra de Melhor Colin Firth para… Colin Firth, que faz um ótimo Colin Firth em “A Escada” (HBO), série protagonizada pelo Colin Firth. Colin Firth é sempre o melhor Colin Firth em toda obra que tem um Colin Firth. Parabéns, Colin Firth.
Prêmio “Come caca e rasga dinheiro”
Os produtores americanos gastam o PIB de um país africano para produzir séries e, ainda assim, muitas delas são mais chatas do que propaganda eleitoral. Elas são homenageadas agora com o Prêmio “Come caca e rasga dinheiro”.
As finalistas são:
“O Pentavirato”
“A mulher do viajante do tempo”
“Mulher Hulk: Defensora de Heróis”
“Obi-Wan Kenobi”
“O Senhor dos Anéis – Os Anéis do Poder”
E o prêmio, é óbvio, vai para o super-mega-muti-bilionário Jeff Bezos que investiu um bilhão de dólares (dez megasenas da Virada!) num sonífero insuportável chamado “Os Anéis do Poder” (Amazon PrimeVideo). Nada funciona. Atores, ambientação, desenho de produção, figurino, roteiro, trama… nada, absolutamente nada, funciona. Tudo isso embalado por uma musiquinha pentelha e persistente que dá vontade de jogar a TV pela janela.
Eu joguei.
Agora preciso comprar uma nova. Droga.
Prêmio “Vamos falar de coisa boa”
E, finalmente, vamos falar de coisa boa: as séries que valeram a pena. São produções que fazem você deixar o celular de lado e mergulhar em roteiros bem estruturados, bem dirigidos e bem interpretados.
As finalistas são:
“White Lotus 2”
“Ruptura”
“Andor”
“A Casa do Dragão”
“Barry 3”
E o prêmio “Vamos falar de coisa boa” vai para… “Ruptura”, da Apple TV. Foi uma escolha difícil. “A Casa do Dragão” (HBO) é tudo o que “Os Anéis do Poder” não conseguiram ser: um prólogo respeitoso e instigante. “Andor” (Disney) mostra que talvez exista salvação para “Star Wars”, mas convém aguardar a segunda temporada, pois a Disney detesta a franquia. “Barry 3” (HBO) confirma o talento de Bill Hader como um dos melhores atores de humor da atualidade. “White Lotus 2” (HBO) tem personagens absolutamente amorais e simplesmente adoráveis. Mas “Ruptura” é uma ficção científica distópica e brilhante, espécie de “The Office” from hell. É um projeto de Ben Stiller e vem daí as doses equilibradas de drama e comédia. Adam Scott é ótimo e sutil como protagonista, mas a série ainda tem John Turturro e Christopher Walken. Fala sério.
“Ruptura” é a melhor série de 2022 e de muitos outros anos.
E chegamos ao final do 845º Prêmio Aran de Filmes e Séries. Semana que vem, a coluna volta ao absurdismo habitual.
Boa noite, Brasil.
Alguém tem uma TV usada pra vender?
Tela plana, baratinha?
Hein?
