Os clubes se tornaram iniciativas bastante comuns ao longo do período de isolamento social e, com pequenas adaptações, têm tudo para continuar em alta nesta década
Aline Viana
Uma prática que ganhou bastante corpo nos últimos anos foi a de clubes de leitura. Participar de um grupo desses é interessante tanto para quem quer gabaritar a meta de ler mais livros ao longo do novo ano como para aqueles que gostariam de ter com quem discutir as obras.
Desde 2021, a escritora Luciana Iser Setúbal organiza um clube de leitura virtual. O catalisador para que desejo antigo de participar de um clube ganhasse corpo foi a pandemia de Covid-19. “Acho que rolou a ideia certa na hora certa, foi bem no início da quarentena quando todo mundo estava afastado e virou uma desculpa para conversar, para se dedicar à literatura”, conta ela.
Houve também demanda externa porque Setúbal costumava postar resenhas no Instagram dos livros por ela lia e alguns seguidores comentaram à mesma época que ela vinha elaborando o clube que ela fizesse alguma iniciativa do tipo.
A escolha dos títulos partiu de alguns princípios que a autora já havia estabelecido para suas próprias leituras: priorizar autoras mulheres, prática que ela adotava desde 2018; considerar mais a literatura contemporânea do que os clássicos e acompanhar os lançamentos do mercado literário.
“Na primeira leva, eu listei aqueles que eu tinha vontade de ler, mas antes eu lia uma mostra e se eu curtisse, ele entraria para a lista. Tive o cuidado de não selecionar só gente do eixo Rio-São Paulo, o que costuma ser um problema dos clubes em geral e de incluir autoras negras também. Quis ter um corpo literário bem eclético de leituras, não ficar só no Brasil, nem só explorar autoras estrangeiras. Peguei autoras da África e da Ásia, não queria ficar só fechada na minha bolha. Ler é para expandir horizontes”, conta Setúbal.
No segundo ano do clube, os critérios permaneceram e o grupo discutiu obras como “Vista chinesa”, de Tatiana Salem Levy (editora Todavia, 2021), e “A pediatra”, de Andrea Del Fuego (editora Companhia das Letras, 2021). Ambos foram finalistas da edição 2022 do prêmio Jabuti, na categoria “Romance Literário”.
O segundo ano de atividades também ficou marcado pelo relaxamento do distanciamento social, graças à ampla distribuição de vacinas para prevenção da Covid-19. Com isso, Setúbal notou que houve uma queda na participação porque “foi sendo mais seguro sair e fazer mais encontros presenciais. [O encontro virtual] foi muito bom para reunir amigas de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de Florianópolis, mas o formato também se revelou uma fraqueza por conta dessa abertura”, analisa a autora.
Assim como nos encontros presenciais, Setúbal notou que o público se manteve flutuante, sendo raro o membro que participou de todos os encontros: “A gente tende a achar que todo mundo participaria o tempo inteiro, daí alguma não podia num determinado dia, houve livros que atraiu mais gente e teve quem não quis participar porque não tinha terminado de ler o livro”.
Ainda assim, a autora contabiliza um saldo positivo com a experiência e se prepara para inovar na próxima edição do clube de leitura: “Vamos continuar com a mesma pegada para seleção dos livros, mas quero trazer a psicanálise para a mesa. Ninguém vai precisar ser entendido de psicanálise, mas venho estudando há alguns anos e acredito que trazer esse viés para o papo vai render algumas leituras muito interessantes”.
Luciana Setúbal é autora dos livros “Ryukyu” (editora Penalux, 2017), “Onde começa o que sempre acaba” (editora Penalux, 2015) além de organizar a antologia “Úmidas Paisagens (editora Penalux, 2018). Você pode acompanhar o trabalho dela e obter informações sobre o clube de leitura no perfil dela no Instagram.
Onde encontrar outros clubes de leitura?
Leia mulheres Santo André – O grupo começou com encontros presenciais e migrou para o formato online em razão da pandemia de Covid-19. O próximo encontro será virtual e está programado para abordar o livro “Mulheres empilhadas”, da best-seller Patrícia Melo.
Clube de leitura “A escrevedeira” – O Centro Cultural Literário A Escrevedeira mantém duas edições mensais, um focado em literatura contemporânea estrangeira e outro na literatura em língua portuguesa. As próximas edições estão previstas para o mês de fevereiro e irão abordar as obras “O acontecimento”, de Annie Ernaux (editora Fósforo) e “Via Ápia”, de Geovane Martins (editora Companhia das letras. Os interessados precisam fazer inscrição prévia e comprar ingresso no valor de R$ 25.
Clube de leitura 30 min – A equipe do podcast 30 min realiza uma vez por mês a discussão de um livro com os ouvintes. A última edição abordou o livro “Fique comigo”, da Ayobami Adebayo (editora Happer Collins)