Reinaldo Glioche
Nos últimos dez anos, o estúdio de cinema Warner Bros. pertenceu a três empresas diferentes. Um reflexo vertiginoso da mudança de paradigma proposta pelo modelo de negócio da Netflix na indústria do audiovisual.
Concretizada em 2021, a fusão da TimeWarner e da Discovery gerou outro gigante do entretenimento com o objetivo de sobreviver em um cenário cada vez mais refratário. A Warner Bros. Discovery mudou radicalmente seu entendimento sobre o streaming, gerando angústia e inquietação nos assinantes da HBO MAX, e resolveu resetar o chamado Universo DC no cinema.
Dos cancelamentos de boas séries, mas com aderência limitada, bem como a remoção de conteúdos para evitar pagamentos residuais aos talentos criativos, a empresa tem sinalizado uma disposição de enxugamento de gastos bem aguda.
Não há margem para passos em falso. Daí, inclusive, a hesitação em lançar um novo streaming, como previsto em meados de 2021, e aventa-se a possibilidade de apenas descontinuar o Discovery+ e introduzir seu conteúdo em uma nova aba na HBO MAX. A ideia de lançar um streaming gratuito, nos moldes do Pluto TV, da Paramount, também está no radar.
David Zaslav, o homem forte da Warner Bros. Discovery, é entusiasta do cinema e acredita que o estúdio não está utilizando a contento muito de suas propriedades intelectuais. Para isso chamou James Gunn para coordenar o Universo DC com fios por cinema e TV, algo como a Marvel faz hoje.
Com o aniversário de 100 anos do estúdio em 2023, estabelece-se, ainda, uma boa alavancagem tanto para o cinema como para o streaming, cuja desidratação, porém, não parece uma decisão acertada. Ainda mais em um momento que a líder de mercado, a Netflix, enfrenta estagnação e desconfiança.
Serão as decisões de Zaslav ao longo deste ano que impactarão o futuro da Warner, e da HBO MAX. O que foi feito até aqui não parece afastar a possibilidade de uma nova venda no médio prazo.
Memória
“Eu acho que dada sua experiência pessoal com os desafios enfrentados na sua família, você é a pessoa certa para fazer esse filme”, recorda-se David O. Russell sobre o que lhe disse o cineasta Sidney Pollack meses antes de morrer. O filme em questão é “O Lado Bom da Vida”, que completa 10 anos de seu lançamento em 2022 e, por isso, motivou um papo entre o diretor e o site da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Russell, que recentemente lançou “Amsterdam” admite que a feitura do filme foi bastante excitante. O elenco, diz ele, se encontrava na pré-produção na cada de De Niro para “assegurar a unidade e amor com a qual o filme seria concebido”.
O cineasta observa que o momento para o filme não poderia ser melhor. “Brad estava sendo descoberto e Jen ainda não era uma estrela por completo. Havia toda uma nova eletricidade nela e os filmes de ‘Jogos Vorazes’ estavam acontecendo”.
“A forma como eu adaptei o livro de Matthew Quick também surpreendeu muita gente”, observa Russell. “Além de um viés de imprevisibilidade, carregava muitos tons: comédia de personagem, drama familiar, coração, intrigas e segredos, além da atmosfera de uma comunidade típica da Filadélfia”.
“O Lado Bom da Vida” foi indicado a oito Oscars, incluindo filme, direção, roteiro adaptado e, claro, os quatro principais atores nas quatro categorias de atuação. Um feito inédito em 40 anos repetido no ano seguinte novamente por Russell com “Trapaça”, mas aí já é outra história.
É possível ver ou rever o filme na Netflix ou no Prime Video.