Antologia de Mike White para a HBO conseguiu ser ainda mais envolvente em sua nova temporada ambientada na Sicília, na Itália. Confira o que achamos do novo ciclo de “The White Lotus”
Por Reinaldo Glioche
A missão era difícil. Superar a excelente primeira temporada que maravilhou público e crítica. A ideia original era fazer apenas aquela minissérie lançada em meados de 2021, mas o programa criado por Mike White era tão bom, que a HBO resolveu fazer uma antologia e agora já há uma licitação informal para saber qual será a cidade que sediará o 3º ano já confirmado.
A 2ª temporada se passa na Sicília e, claro, o cenário é um personagem importante para o desenvolvimento da trama e seus conflitos, mas há muito mais no escopo do novo ciclo de “The White Lotus”.
A começar por um maior equilíbrio nos conflitos dos personagens, cujo interesse da audiência por eles é sustentado ao longo de toda a temporada, encerrada neste domingo (11), com a exibição do sétimo episódio pela HBO.
Há um refinamento claro no desenho dos personagens e na resolução dos conflitos. O desfecho traz muito do arreio moral de Woody Allen, brinca com as perspectivas do público e o brinda com sutilezas capazes de sugerir o que não é expressamente revelado.
Há, por exemplo, um comentário muito sagaz sobre a masculinidade contemporânea na observação dos três homens de uma mesma família. Da relação deles com o feminino, de como esta é atravessada pelo dinheiro, e da força dos exemplos neste contexto. Este núcleo, composto por Michael Imperioli, F. Murray Abraham e Adam DiMarco se bifurca com o arco local, capitaneado por Beatrice Grannò, que vive Mia, e Simona Tabasco, talvez a responsável pela melhor personagem desse novo ciclo, Lucia.
As duas garotas locais costumam cercar o The White Lotus da Sicília em busca de turistas ricos dispostos a curtir com garotas locais, por uma boa quantia em dinheiro, claro. De alguma forma, elas acabam conectando todos os núcleos desse novo ano e ajudando a mover as história, o que não quer dizer que o holofote não as mire e que elas não brilhem. Brilham e muito!
É inegável, porém, que a erótica e tensa dinâmica entre dois casais amigos constitui o foco de maior fervura na nova temporada. A evangelização de Ethan (Will Sharpe) e Harper (Aubrey Plaza) por Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy) se dá por completo ao fim da viagem. Dos choques por questões político-culturais à maneira como encarar a vida e o casamento, esse arco se provou o maior acerto do novo ano na maneira como arreda o espectador e os personagens na dúvida e propõe novos olhares para conflitos universais.
O 2º ano de “The White Lotus” diminui a potência da sátira, o que não quer dizer que o humor seja negligenciado. A personagem de Jennifer Coolidge, destaque do primeiro ano, retorna com direito a um momento ridiculamente legendário na season finale e, de certa forma, passa o bastão para sua assessora Portia – a personagem mais woodyalleniana da trama e graciosamente vivida por Haley Lu Richardson – que certamente viveu na Sicília uma das aventuras mais estranhas e definidoras de sua existência.