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Supremacismo branco feminino emana choque e horror em “Soft & Quiet”

Longa indie estrutura sua dramaturgia em torno de um dia na vida de uma professora primária que vai se revelando uma figura mais condenável a cada novo desdobramento

Por Reinaldo Glioche

“Ideias vigorosas podem ser melhor digeridas se apresentadas de forma suave”, exclama em certo momento durante uma reunião com seu grupo de supremacistas brancos, a professora primária vivida por Stefanie Estes em “Soft & Quiet”, interessantíssima estreia na direção de longas-metragens da cineasta americana, filha de brasileiro e com cidadania do País, Beth de Araújo.

O filme, mais um fruto da inquietude artística durante a pandemia, foi rodado em poucos dias, de maneira ultraindependente fiando-se única e exclusivamente na força de seu roteiro e no talento de suas atrizes. “Soft & Quiet” tem o mérito de mimetizar como ideias reacionárias e perigosas voltam à paisagem e como é tênue o limite da civilidade a afastá-las do tecido social.

Trata-se de um filme que entoa a reflexão por meio de uma espiral de horror que nunca é banal, mas incomodamente familiar. O supremacismo branco aqui, que tem em sua matiz anti-imigração sua maior verve, guarda semelhanças com o trumpismo, embora essa relação nunca seja sugerida pela realização, um dos muitos acertos de Beth que demonstra segurança e perícia na organização narrativa e estética de seu filme.

A ideia de que mulheres possam encampar ideias tão atrozes e sejam capazes de articular ações como as que vimos no filme é, ainda, uma conquista feminista, já que tira a mulher de uma posição de heroína contumaz ou vilã fantasiosa. É, também, uma construção arquetípica poderosa para entender a gestação de ebulições sociais e culturais. Como retrato de sua época, “Soft & Quiet” tem, portanto, um valor inestimável.

Vale a pena ler: “Soft & Quiet” A Chilling And Timely Indie Horror Film

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