Reinaldo Glioche
A produção cinematográfica francesa atingiu um novo pico em 2024, com 309 filmes produzidos, um recorde quase idêntico ao de 2021, quando filmagens atrasadas pela pandemia se acumularam. O relatório anual do CNC também destacou um aumento significativo nas coproduções, com 130 filmes internacionais minoritariamente franceses – o terceiro maior volume desde 1952. A Bélgica liderou como principal parceiro, com 30 filmes, seguida pela Alemanha, com oito.
O investimento total no cinema francês alcançou €1,44 bilhão (US$1,57 bilhão), um aumento de 21,3% em relação aos níveis pré-pandemia. O investimento estrangeiro, impulsionado por plataformas de streaming como Netflix, Prime Video e Disney, também cresceu 16%, atingindo US$301 milhões.
Um destaque de 2024 foi o aumento na produção de filmes de grande orçamento. Enquanto a média orçamentária é de US$4,5 milhões, oito filmes ultrapassaram €20 milhões – o dobro da média pré-pandemia. Filmes como “O Conde de Monte Cristo” (Pathé) e “Beating Hearts” (Studiocanal/Mediawan) exemplificam essa tendência. Três dessas produções de alto custo foram animações, incluindo “Astérix: O Reino da Núbia” e o filme de Paul McCartney para a Netflix, “High in the Clouds”.
As plataformas de streaming injetaram US$83,7 milhões no pré-financiamento de filmes franceses em 2024, um aumento anual de 59%. A Netflix liderou com 27 filmes financiados ou cofinanciados, seguida por Disney+ (10) e Prime Video (6). Curiosamente, o investimento das plataformas concentrou-se em filmes com orçamentos médios de US$10 milhões, acima da média nacional.

Esse aumento de investimento está ligado às novas regulamentações da UE, que exigem que os serviços de streaming invistam uma parcela de sua receita local em filmes franceses para cinema, além de produções para TV. O nível de investimento influencia seu acesso aos filmes após o lançamento nos cinemas. O Disney+, por exemplo, garantiu uma janela de exibição de nove meses após um compromisso de compra de 70 filmes em três anos. O Canal+, principal financiador do cinema francês, tem acesso aos filmes seis meses após o lançamento, tendo investido €180 milhões em 2024.
Em contraste com o crescimento geral, o CNC notou um declínio pelo segundo ano consecutivo no número de filmes dirigidos por mulheres, representando menos de 27% da produção total, abaixo dos 33,2% em 2022. Essa queda pode ser cíclica. No entanto, em documentários, a participação de diretoras atingiu 35,7%. O estudo também revelou que diretoras ainda enfrentam dificuldades para acessar grandes orçamentos, com apenas dois filmes acima de US$11 milhões dirigidos por mulheres: “Alpha”, de Julia Ducournau, e “Natacha”, de Noemie Saglio.