Redação Culturize-se
Na quarta-feira (02), o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou tarifas abrangentes que afetam praticamente todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos. Na quinta-feira (3), o mercado de ações sofreu sua pior queda desde a pandemia, e economistas alertaram sobre uma recessão iminente. A Casa Branca afirma que as tarifas visam restaurar a justiça no comércio global, enfrentando déficits comerciais e desequilíbrios percebidos. Mas a explicação mais plausível parece ser que as tarifas são simplesmente uma ferramenta de barganha — algo que Trump admite abertamente usar como alavanca em negociações globais.
Questionado sobre a lógica por trás das tarifas, Trump afirmou de forma direta: “As tarifas nos dão grande poder de negociação”, acrescentando que todos os países o procuraram. Ele deu a entender que pode recuar — se receber “algo fenomenal” em troca. Um desses “algos” é o TikTok.
Especificamente, Trump vinculou um possível alívio tarifário para a China a um acordo envolvendo as operações norte-americanas do aplicativo TikTok, da ByteDance. O app enfrenta um prazo para ser desmembrado neste sábado (5), a menos que Trump prorrogue novamente o prazo. Uma lei aprovada sob o governo Biden, e mantida por unanimidade pela Suprema Corte, exige que a ByteDance se desfaça do TikTok ou enfrente um banimento nos EUA. Mas, em seu primeiro dia no cargo, Trump assinou uma ordem executiva adiando a aplicação da lei por 75 dias, apesar de a legislação não lhe conceder esse poder.

Grandes empresas de tecnologia como Apple e Google inicialmente cumpriram a lei, temendo consequências legais. Mas, como o governo adiou a aplicação, o TikTok voltou às lojas de aplicativos. Com o fim dos 75 dias se aproximando, o vice-presidente J.D. Vance afirma que um acordo é iminente. No entanto, os indícios apontam para um acerto apenas “em princípio”, com os detalhes ainda a serem definidos.
Segundo relatos, o acordo proposto prevê que o TikTok América seja meio pertencente a novos investidores norte-americanos, licenciando seu algoritmo da ByteDance. A ByteDance manteria uma participação de 19,9% — logo abaixo do limite legal. Trump poderia declarar isso como uma “alienação qualificada” e afirmar que a lei foi cumprida.
Há vários problemas com isso. Primeiro, não está claro quem realmente controlaria o TikTok. A Oracle, liderada pelo aliado de Trump Larry Ellison, é a principal favorita. Outros interessados incluem Amazon, AppLovin, Andreessen Horowitz e até o fundador do OnlyFans. Ainda assim, parece provável que Ellison saia vencedor.
Segundo, não há indicação de que a China tenha concordado com o acordo proposto — e por que concordaria? Trump basicamente sinalizou que o TikTok é uma moeda de troca, tornando improvável a cooperação chinesa sem concessões mais amplas.
Terceiro, o acordo enfraqueceria os próprios objetivos que o Congresso citou ao aprovar a lei de desmembramento do TikTok: preocupações com privacidade de dados e influência estrangeira. Com a ByteDance mantendo uma fatia e o TikTok continuando a usar seu algoritmo, o governo chinês ainda poderia, teoricamente, influenciar o conteúdo ou acessar dados de usuários — exatamente o que os legisladores queriam impedir.
Assim, embora Trump possa anunciar progresso, o desfecho mais provável é mais um adiamento. Enquanto isso, as consequências mais amplas de sua estratégia tarifária começam a tomar forma, com os impactos econômicos já sendo sentidos — e sem um fim claro à vista.