Redação Culturize-se
A série “Maria e o Cangaço”, já disponível no Disney+, oferece uma nova e potente abordagem sobre a figura de Maria Bonita, protagonista feminina do cangaço brasileiro. Inspirada no livro “Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”, da jornalista Adriana Negreiros, a produção se afasta da narrativa tradicional centrada em Lampião e dá voz à trajetória de Maria de Déa – uma mulher à frente de seu tempo, que ousou romper com os padrões impostos em uma época marcada pela opressão e violência contra as mulheres.
Interpretada por Isis Valverde, Maria surge como figura central de uma história que entrelaça os desafios da vida fora da lei com os dilemas universais da maternidade, da liberdade e da luta por autonomia. A atriz destaca que o foco feminino da produção traz um olhar inédito sobre o período, tradicionalmente contado por homens. A série não romantiza o cangaço, mas o retrata como o contexto brutal que foi, evidenciando as dores e resistências das mulheres que viveram e combateram nesse cenário.
A produção dirigida por Sérgio Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido, se destaca não apenas pelo enredo, mas também pela escolha das locações e pela equipe majoritariamente nordestina. Filmada quase inteiramente no sertão nordestino, especialmente na região de Cabaceiras, a série ganha autenticidade ao retratar os lajedos, paisagens áridas e cenários reais onde o cangaço existiu de fato. Com isso, o sertão não é apenas pano de fundo, mas personagem vivo da trama, revelando sua beleza dura e poética.





Com batalhas épicas, relações políticas complexas e conflitos pessoais intensos, “Maria e o Cangaço” costura o passado com questões profundamente atuais. Sérgio Machado afirma que temas como feminicídio, a sobrecarga feminina e o dilema entre maternidade e trabalho perpassam a história. Maria Bonita, que foi a primeira mulher a entrar em um bando de cangaceiros por escolha própria e era alfabetizada — uma raridade na época —, emerge como símbolo de resistência e consciência histórica. A série também busca mostrar como outras mulheres do cangaço atuaram como estrategistas e combatentes, resgatando papéis até então apagados pela historiografia oficial.
Além de Valverde, o elenco reúne nomes como Mohana Uchôa, Clebia Sousa, Thainá Duarte e Jorge Paz, com mais de 90% dos intérpretes oriundos do Nordeste. Essa escolha não apenas reforça a fidelidade cultural da produção, mas celebra o talento regional no centro de uma superprodução nacional.
“Maria e o Cangaço” prima por esse resgate da memória por uma perspectiva feminina, marcada pela luta, pela contradição e pela força de uma mulher que se recusou a ser coadjuvante de sua própria história.