Redação Culturize-se
Nos últimos meses, uma onda curiosa e peculiar tomou conta do entretenimento global: os concursos de sósias de celebridades. Em locais de grande visibilidade, multidões se reúnem para assistir ou participar de competições que celebram a semelhança com ícones da cultura pop. De Nova York a Dublin, de Londres ao Rio de Janeiro, o fenômeno não apenas viralizou nas redes sociais, mas também gerou reflexões sobre identidade, cultura de celebridades e o impacto de eventos como esses na sociedade contemporânea.
A febre das competições
Tudo começou com o ator Timothée Chalamet, cuja competição de sósias, realizada no Washington Square Park, em outubro, atraiu multidões e, inesperadamente, o próprio ator. Desde então, uma sucessão de eventos semelhantes se espalhou pelo mundo: Paul Mescal em Dublin, Harry Styles em Londres, Dev Patel em São Francisco, Zendaya em Oakland e até mesmo Jeremy Allen White, de “The Bear“, em Chicago. No Brasil, os concursos de sósias também ganharam espaço, como no cinema Estação NET Rio, que sediou o Seltonverso e, em breve, realizará o Fernandaverso, dedicado a Fernanda Torres.
Os eventos são marcados por características inusitadas. Participantes adotam figurinos, gestos e estilos que remetem à celebridade em questão, enquanto os prêmios variam de itens simbólicos a dinheiro. Um exemplo cômico foi o concurso de Jeremy Allen White, em que o vencedor recebeu um maço de cigarros Marlboro Reds. No caso do Seltonverso, o prêmio foi ainda mais peculiar: cinco ingressos de cinema e um liquidificador, uma alusão ao filme Reflexões de um Liquidificador (2010), estrelado por Selton Mello.
Uma história antiga
Embora pareça uma tendência moderna, os concursos de sósias têm suas raízes em décadas passadas. Na década de 1920, Charlie Chaplin supostamente ficou em terceiro lugar em uma competição de sósias dele mesmo. Dolly Parton também contou, em suas memórias, que participou de um evento semelhante e não foi aplaudida. Nos anos 1930, competições dedicadas a Shirley Temple mobilizaram centenas de crianças. Em Key West, na Flórida, um concurso anual de Ernest Hemingway acontece há 40 anos.
A diferença hoje é o alcance global e a viralização instantânea nas redes sociais. Conforme apontado pelo sociólogo britânico Ellis Cashmore, esses eventos refletem a ideia moderna de que “a biologia não é destino”. Eles são uma manifestação da crença de que é possível se transformar em quem ou no que quisermos — seja em termos de aparência, comportamento ou identidade.
Reflexões culturais e psicológicas
O fascínio pelos sósias vai além do entretenimento. No folclore alemão, doppelgängers são maus presságios. Hoje, no entanto, parecem funcionar como uma forma de escape em tempos sombrios. Em um mundo marcado por conflitos geopolíticos, crises climáticas e incertezas econômicas, talvez a necessidade de se parecer com alguém famoso seja um alívio cômico para a ansiedade coletiva.
O escritor Adam Golub acredita que estamos vivendo uma “era de ouro dos sósias”, alimentada por uma cultura de celebridades que atravessa fronteiras. Ele vê esses concursos como oportunidades de criação de comunidade, onde pessoas com interesses comuns podem se conectar.
Apesar de sua popularidade, os concursos de sósias têm gerado críticas. Há quem questione onde estão as competições para homens carecas ou pessoas comuns? Além disso, a obsessão por parecer uma celebridade é vista por alguns como um reflexo de superficialidade e busca incessante por atenção.
Outros apontam para as implicações psicológicas. Embora muitos encarem os concursos como diversão, existe um impacto emocional em ter sua identidade ligada à de outra pessoa.
Um futuro imprevisível
O que explica a proliferação desse fenômeno? Algumas teorias sugerem que os concursos são brincadeiras para aliviar a tensão em um mundo incerto, enquanto outras vêem neles um protesto contra a inteligência artificial. Em tempos de deepfakes e edições digitais, a ideia de uma semelhança orgânica é um lembrete de que ainda somos humanos.
Seja como expressão artística, escapismo ou símbolo de uma cultura obcecada por celebridades, os concursos de sósias continuam a intrigar e entreter. Resta saber até onde essa tendência irá e quais novas questões ela trará sobre identidade e conexão humana em um mundo cada vez mais complexo.