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Afinal, a inteligência artificial ajuda ou atrapalha um jornalismo sustentável?

Redação Culturize-se

A revolução da inteligência artificial (IA) no jornalismo representa tanto um avanço tecnológico quanto um desafio ético e profissional. Durante a Trust Conference 2024, realizada em Londres, líderes do setor discutiram os impactos da IA, abordando seu potencial de transformação e os riscos associados ao seu uso indiscriminado.

Foto: Reprodução/Internet

Para Richard Gingras, Vice-Presidente do News at Google, a IA tem o poder de transformar o jornalismo, indo além da eficiência e ampliando a capacidade de informar de maneira mais precisa e contextualizada. Ele destaca que ferramentas de IA podem ajudar jornalistas a evitar linguagem tendenciosa e oferecer análises aprofundadas, auxiliando o público a interpretar melhor os eventos. Exemplos práticos incluem ferramentas como a Pinpoint, que facilita a análise de grandes volumes de documentos, ampliando as possibilidades da investigação jornalística.

No entanto, Gingras reconhece que o uso da IA deve ser acompanhado por reflexões éticas. Ele aponta a crise de confiança no jornalismo como um problema agravado pela polarização e pela disseminação de notícias sem contexto. A IA, segundo ele, pode contribuir para reverter esse cenário, desde que usada com responsabilidade.

Por outro lado, a relação entre grandes empresas de tecnologia e criadores de conteúdo foi duramente criticada por Kara Swisher, renomada jornalista de tecnologia. Durante o evento, ela reforçou a importância de regulamentar o uso de materiais criativos para o treinamento de IA, argumentando que a apropriação não autorizada ameaça o sustento de profissionais e empresas. Swisher é categórica ao afirmar que as empresas de tecnologia historicamente agem como “ladrões de loja” (shoplifters), utilizando conteúdo sem a devida compensação.

A falta de regulamentação eficaz não apenas prejudica os criadores, mas também ameaça a credibilidade do jornalismo. Swisher observa que a responsabilidade por mitigar esses problemas recai sobre os reguladores. Segundo ela, as empresas de tecnologia priorizam o lucro, agindo de forma predatória, enquanto governos frequentemente falham em estabelecer normas adequadas.

A história do avanço tecnológico serve como alerta. Swisher cita o exemplo do livro “O Martelo das Bruxas”, que, ao ser amplamente disseminado pela prensa de Gutenberg, resultou em caças às bruxas que custaram a vida de milhares de mulheres. Para ela, o progresso tecnológico sempre traz benefícios e riscos, e cabe à sociedade garantir que o uso positivo supere os danos.

Apesar das críticas, Swisher reconhece o potencial transformador da IA, desde que regulamentada e usada de forma ética. Gingras, por sua vez, ressalta que a IA também pode beneficiar a sustentabilidade do jornalismo. Ferramentas generativas podem aumentar o engajamento do público, ajudar a criar conteúdo mais relevante e impulsionar modelos de assinatura.

No entanto, a desconfiança persiste, especialmente em relação à transparência. Gingras defendeu a política do Google de apresentar múltiplas perspectivas em questões complexas, rejeitando a ideia de oferecer respostas absolutas. Ele argumenta que a busca por um equilíbrio entre pluralidade e confiabilidade é fundamental para manter a credibilidade da plataforma.

Richard Gingras | Foto: Thomson Foundation

Enquanto a IA promete revolucionar o jornalismo, os debates na Trust Conference deixam claro que o progresso não pode vir à custa de valores fundamentais. A transparência, a compensação justa aos criadores e a regulamentação adequada são pilares indispensáveis para equilibrar inovação e ética.

Conforme enfatizou Swisher, o papel da imprensa é manter a pressão sobre os detentores de poder, seja no governo ou na indústria tecnológica. Nesse contexto, o jornalismo deve continuar a produzir reportagens de qualidade, ampliar a conscientização pública e exigir responsabilidade. Afinal, a inteligência artificial só será verdadeiramente transformadora se beneficiar tanto os profissionais quanto o público, sem comprometer os princípios éticos que sustentam a profissão.

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