Search
Close this search box.

20 anos sem John Peel, o DJ mais bacana da BBC

Tom Leão

Há 20 anos, uma voz marcante se calava para sempre. John Peel, o DJ (disc-jockey) mais famoso da BBC Radio 1, morria, em 25 de outubro de 2004, aos 65 anos, vitimado por um ataque cardíaco, quando estava de férias, em Cusco, no Peru. Peel era muito mais do que um simples apresentador e selecionador de músicas no rádio. Ele formou (e revelou) toda uma geração de amantes do rock. Tendo começado a carreira nos anos 1960, numa rádio pirata (houve tempo em que os ingleses e grande parte dos europeus só ouviam música pop assim, já que, nas rádios ‘normais’, todas estatais, só se tocava jazz e clássicos), entrou para a BBC em 1967, onde ficou até a sua morte.

Nascido John Robert Parker Ravenscroft, em 30 de agosto de 1939, Peel era filho de um comerciante de algodão, mas nunca teve muito a ver com os negócios da família — embora, no começo dos anos 60, ainda em seus 20, tenha ido pela primeira vez aos Estados Unidos representando um trabalho do pai. Acabou ficando um tempo por lá, onde trabalhou em várias coisas, mas nada ligado a rádio, mas pôde ver o rock local florescer. Na escola, foi colega de classe de Michael Palin, um dos futuros integrantes da trupe de humor Monty Python.

Peel é mais conhecido por ser um dos DJs originais da BBC Radio 1, que, até hoje, não teve nenhum mais relevante que ele. Foi um dos primeiros a tocar rock psicodélico e progressivo nas rádios britânicas (é sempre bom contextualizar: enquanto a onda britânica do rock, capitaneada pelos Beatles e Stones, varria as ilhas da rainha, os jovens não tinham onde ouvir o rock emergente, a não ser nos shows), promovendo uma vasta gama de gêneros musicais, incluindo punk rock, reggae, metal, música eletrônica e hip hop. De Led Zeppelin a Sepultura (foi o primeiro a toca-los no UK), de Jethro Tull a The Fall, e tudo o que veio no meio, Peel abriu as portas para nomes que não tocavam nas rádios e que, depois, se tornaram grandes.

Peel (cujo nome artístico é emprestado de Miss Peel, a sensual espiã sexy da série de TV ‘Os Vingadores’, feita por Diana Rigg) era famoso por suas ‘Peel Sessions’ — lançadas através do selo independente Strange Fruit –, gravações de quatro músicas feitas por artistas nos estúdios da BBC (em Maida Vale), muitas vezes proporcionando a primeira grande exposição nacional para bandas que, mais tarde, alcançariam fama. Tenho alguns exemplares de Peel Sessions (saíram mais de 100!), incluindo uma de New Order, e outra, de Siouxsie & The Banshees, que trazem versões originais de músicas que estariam nos primeiros álbuns das bandas. Ele também apresentou o programa anual ‘Festive Fifty’, onde mostrava os 50 melhores discos do ano, conforme votado por seus ouvintes. A música favorita da vida de JP, era ‘Teenage Kicks’, da banda irlandesa The Undertones.

Além de sua carreira na rádio, Peel também apareceu ocasionalmente na televisão, incluindo como apresentador do programa ‘Top of the Pops’ na década de 1980. Ele também fez locução para vários programas da BBC2, e era sempre chamado para tocar, como DJ, em tendas de grandes festivais, como o de Glastonbury. Em seus últimos anos, Peel ganhou popularidade com o programa ‘Home Truths’ na BBC Radio 4, onde apresentava histórias inusitadas da vida dos ouvintes. Mas, sua relação com a BBC, que queria acabar com seu programa, estava abalada. De birra, em seus últimos anos, ele tocava bandas marciais e discos arranhados e com chiados.

Fotos: Trievnor/Express/Hulton Archive/Getty Images

Peel é lembrado não apenas por sua contribuição à música, mas também por seu entusiasmo inabalável por novas músicas e artistas (no Brasil, o profissional mais parecido com ele, inclusive fisicamente, é Mauricio Valladares, da Fluminense FM, que lançou várias bandas em seu programa). Ele deixou uma coleção gigantesca de discos de todos os gêneros e partes do planeta, preservados por sua esposa, Sheila.

Curiosidade: conhecia Peel, de nome, mas só fui ouvi-lo nos anos 80, através do BBC World Service, em ondas curtas (nas noites de quarta-feira). O que, de certa forma, remeteu a seus tempos de rádio pirata. Depois, com a internet, passei a ouvi-lo regularmente, e a gravar os programas em MD.

Deixe um comentário

Posts Recentes