Por Reinaldo Glioche
Não pairam dúvidas de que uma sequência para o épico vencedor do Oscar “Gladiador” é completamente desnecessária. O que não implica dizer que necessariamente a continuação seria ruim. 24 anos depois do original, Ridley Scott lança uma sequência mais sangrenta, com um elenco mais pop, com mais recursos e navegando entre a desconfiança e a condescendência.
“Gladiador II” é um bom entretenimento, mas é um filme bastante problemático. Essa distinção é importante porque pode-se divertir-se na sessão e ainda assim reconhecer as muitas fragilidades de um filme que falhou em legitimar sua existência para além da vaidade e ambição de seus realizadores.
O principal problema do longa é o roteiro, cheio de pontas soltas, soluções mal costuras e personagens mal desenvolvidos. Um exemplo é o general Acacius, defendido por Pedro Pascal. É ele quem carrega o conflito mais denso e instigante do longa, mas o filme se desinteressa por ele em favor de repisar conflitos e noções do primeiro filme. Isso, inclusive, referenciando excessivamente o longa estrelado por Russell Crowe. É quase como se Scott não confiasse que a produção pudesse oxigenar-se por si mesma.
De fato, “Gladiador II” tropeça nas próprias pernas, mas a reverência exacerbada contribui para essa condição. O argumento, ou seja, a ideia que amarra o filme, é outro problema. Evidenciado no desenho do personagem Hanno/Lucius, que Paul Mescal falha em dimensionar a contento. O personagem surge esquizofrênico na concepção de um roteiro que sabe onde quer chegar, mas não como.
Quando o terço final de um épico de 2h30 se mostra apressado, ficam patentes problemas de montagem, ritmo e, novamente, roteiro. A hora final de “Gladiador II” é um simpósio de equívocos. O clímax não funciona, o desfecho soa deslocado, os personagens descontextualizados de suas convicções cênicas e a ambição de Scott parece cada vez mais circunscrita à diversão – não à toa temos tubarões no Coliseu.
É uma pena que um filme com tanto potencial faça tantas escolhas pedestres. De positivo, a expertise de Scott na direção de cenas de grande escala. “Gladiador II” tem cenas que parecem maior que a vida e são realmente empolgantes. O longa sobeja, ainda, na arquitetura visual com direção de arte e figurinos requintados, embora os efeitos especiais vez ou outra provoquem algum embaraço.
O saldo não é exatamente positivo, mas Denzel Washington, sempre ele, ajuda a tornar o filme algo mais palatável com sua atuação carismática e cheia de energia maquiavélica. Seu mercador de escravos self made man é sempre um prazer em cena e é quando contracena com ele que Paul Mescal atinge as notas que dele se esperava.
No limiar, “Gladiador II” é a epítome de pão e circo made in Hollywood e, nessa perspectiva, para o bem e para o mal, funciona com vigor invejável.