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O guia esnobe da ironia

Edson Aran

Todo dia escuto gente falando que “ninguém mais entende ironia”. Não pode ser! A prática da ironia é mais simples do que análise de pesquisa eleitoral.

“Não há dúvida: o candidato com mais votos certamente vencerá.”

“Discordo completamente, para mim, o candidato com menos votos fatalmente perderá.”

A teoria da ironia estabelece que a prática consiste em expressar o oposto do que se diz por meio de palavras. A história registra uma tentativa inglória de ironizar com tambores, mas isso causou o rebaixamento de várias escolas de samba no carnaval de 1998. As palavras, embora em baixa, ainda são o veículo ideal para o exercício.

A ironia é uma das mais sofisticadas formas de humor, perdendo apenas para guerra de tortas, flores que espirram água, escorregão em casca de banana e flatulência em lugares públicos.

Não se deve, no entanto, confundir ironia com sarcasmo, que é uma zombaria mordaz e agressiva, sempre de tom provocativo.

Entenda a diferença:

Ironia: Nossa, amiga, essa harmonização facial te deixou a cara da Charlize Theron… naquele filme “Monster – Desejo Assassino”.

Sarcasmo: Meu deus! É o Maníaco do Parque! Tô fodida! Socorro, polícia!

O grande problema da ironia é acertar o tom. Se for sutil, passa em branco. Se for explícito, passa da conta. Se for Jobim é Bossa Nova.

A ironia era bastante utilizada como método indutivo pelo filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.) Ele reunia os discípulos numa sauna de aula de Atenas e dizia: “Platão, meu rei, cansei desse seu platonismo, chegue aqui e me dê um cheiro…”

Platão tinha duas opções: refutar com inteligência a argumentação do mestre ou passar de ano com nota máxima. Mas isso não é ironia, é cinismo, uma coisa completamente diferente.

Na filosofia, o cínico entende que tudo tem um preço e nada tem valor. O grande representante dessa corrente de pensamento é Diógenes de Sinope (400-320 a.C.), que, desgostoso com o comportamento moral do ser humano, andava pela rua com uma lanterna gritando: “Eu procuro um homem! Eu procuro um homem!”. Nessa hora, Sócrates abria a janela e dizia: “Cala a boca e vai dormir, sua bicha!”

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