Redação Culturize-se
O mercado editorial global tem atravessado profundas transformações nos últimos anos, impulsionado tanto por avanços tecnológicos quanto por mudanças nos padrões de consumo dos leitores. No Brasil, essas mudanças se manifestam no crescente papel dos conteúdos digitais, como e-books e audiolivros, e na adaptação das editoras e livrarias a essas novas tendências. No entanto, mesmo com o aumento do consumo digital, o mercado físico de livros continua relevante, criando uma convivência entre os dois formatos, cada qual com seus desafios e oportunidades.
Desde o início da apuração dos dados sobre o conteúdo digital no setor editorial brasileiro, há cinco anos, o crescimento tem sido significativo, com uma evolução de 158% no faturamento das editoras com esses formatos. Esse avanço, registrado até 2023, mostra que a aceitação do digital, embora lenta em comparação a outros mercados, começa a ganhar terreno. No entanto, o conteúdo digital ainda representa apenas 8% do faturamento total das editoras no Brasil, revelando o predomínio do livro impresso, mas com projeções otimistas para o futuro.
O setor educacional, especialmente no ensino superior, tem sido um dos principais motores desse crescimento digital. Plataformas como a Minha Biblioteca se consolidaram como uma alternativa prática e eficiente para estudantes e professores, permitindo o acesso a milhares de títulos com uma única assinatura. O crescimento das bibliotecas virtuais nas instituições de ensino reflete essa tendência, com uma alta de 59% no faturamento proveniente dessas plataformas em 2023.
No subsetor CTP (científicos, técnicos e profissionais), o digital tem desempenhado um papel crucial ao estancar as perdas que vinham sendo registradas com a queda nas vendas de livros impressos. Editores como Dante Cid, da Elsevier, destacam que a migração para o digital, que já representa 90% do faturamento da empresa, é uma tendência irreversível nesse segmento, especialmente em literatura acadêmica e científica.
Contudo, apesar dos avanços digitais, o mercado de audiolivros ainda não alcançou o mesmo sucesso no Brasil. Representando apenas 7% do acervo digital total, esse formato encontra dificuldades em se estabelecer. Especialistas acreditam que o Brasil ainda precisa desenvolver um mercado consumidor de audiolivros, algo que depende de investimentos significativos em marketing e publicidade. O modelo de assinatura pode ser uma solução para esse formato, como já acontece com outros mercados mais maduros.
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No cenário global, o mercado editorial também enfrenta desafios. Em 2022, houve uma queda de 10,11% nas vendas globais de livros comerciais em relação ao ano anterior, resultado da desaceleração após o crescimento atípico durante a pandemia de Covid-19. No entanto, as projeções para os próximos anos são mais otimistas, com expectativa de crescimento de 1,48% ao ano até 2027, quando o faturamento global deverá alcançar US$ 82,7 bilhões. O formato digital, especialmente os e-books, deve desempenhar um papel importante nessa recuperação, com um crescimento anual de 3,52%, superando o ritmo dos livros impressos.
No Brasil, o mercado editorial segue um caminho semelhante. Estima-se que o país tenha cerca de 25 milhões de consumidores de livros, e a maioria deles (55%) prefere comprar online, atraídos por promoções e pela conveniência do canal digital. No entanto, a experiência de compra presencial ainda tem seu valor, com 40% dos consumidores optando por livrarias físicas, onde podem manusear os livros e contar com recomendações dos vendedores.
Essa convivência entre o digital e o impresso reflete um equilíbrio entre tradição e modernidade. A plataforma AYA Conteúdos, por exemplo, que recentemente fundiu seus aplicativos AYA Books e Livroh, oferece aos seus usuários um serviço de streaming de livros, com mais de 20 mil títulos disponíveis por uma assinatura mensal. Essa fusão mostra que há um espaço crescente para o conteúdo digital, especialmente quando aliado a inovações que oferecem conveniência e uma experiência de leitura mais personalizada.
Além disso, o mercado de livros no Brasil não se resume apenas ao digital. As livrarias físicas continuam desempenhando um papel cultural importante, especialmente como espaços de encontro e promoção da leitura. Embora o país tenha registrado uma leve retração nas vendas de livros em 2023, com uma queda de 0,8% no faturamento, houve também a abertura de mais de 100 novas livrarias, totalizando quase 3 mil estabelecimentos. Para muitos, o ato de comprar um livro em uma livraria física é mais do que uma transação comercial: é uma experiência que envolve memória, vivência e conexão com a cultura literária.
Os desafios que o setor enfrenta, como a necessidade de adaptação às novas tecnologias e a concorrência das vendas online, são contrabalançados pela força cultural das livrarias físicas e pela demanda por experiências literárias presenciais. O comportamento do consumidor, especialmente no pós-pandemia, tem mostrado que há uma demanda por espaços de socialização e cultura, o que reforça a importância das livrarias físicas, mesmo em um mundo cada vez mais digital.
O mercado editorial está em um momento de transformação, no qual o digital ganha espaço, mas o impresso ainda mantém sua relevância. A convivência entre os dois formatos parece ser o caminho para o futuro, com as editoras e livrarias se adaptando às novas demandas dos consumidores, sem deixar de lado a importância das tradições culturais associadas à leitura. O desafio para os próximos anos será equilibrar essas duas forças, oferecendo ao público o melhor dos dois mundos.