Redação Culturize-se
A construção em madeira tem ganhado cada vez mais espaço na arquitetura contemporânea, sendo vista como uma alternativa sustentável e inovadora em comparação aos tradicionais concreto e aço. Este movimento é motivado por uma série de fatores, tanto ambientais quanto estéticos, que fazem da madeira uma escolha promissora para um futuro mais verde.
Um dos pontos mais relevantes no uso da madeira é sua sustentabilidade. Diferente de materiais como concreto e aço, cuja produção é altamente poluente, a madeira, quando proveniente de florestas manejadas de forma responsável, atua como um sequestrador de carbono, ou seja, armazena CO₂ da atmosfera. Esse é um dos principais argumentos a favor da madeira engenheirada, ou mass timber, que consiste em várias camadas de madeira coladas, formando estruturas resistentes como vigas, pilares e paredes. O conceito de sequestro de carbono, presente nas construções em madeira, faz delas uma alternativa viável em um momento em que a redução das emissões de carbono é urgente para combater as mudanças climáticas.
Além do aspecto ambiental, a madeira também oferece uma série de benefícios práticos. Entre eles, a rapidez na construção se destaca, uma vez que muitos dos componentes de madeira podem ser pré-fabricados, acelerando o processo de montagem no local. O tempo de construção pode ser reduzido pela metade, passando de 24 a 30 meses para apenas 12 a 15 meses. Essa eficiência é particularmente atraente em mercados imobiliários dinâmicos, onde a agilidade pode representar uma vantagem competitiva significativa. Além disso, a leveza da madeira permite o uso de fundações menos robustas, o que reduz custos e complexidade estrutural.
No entanto, o uso da madeira na construção civil ainda enfrenta desafios significativos. Um deles é a percepção pública sobre a durabilidade e segurança desse material. Ainda há ceticismo quanto à resistência da madeira a fatores como fogo, umidade e ataques de pragas. Embora a tecnologia tenha avançado, com tratamentos especiais para aumentar a proteção contra essas ameaças, a aceitação do público e a regulamentação ainda são obstáculos que precisam ser superados para uma adoção mais ampla da madeira em edifícios de grande escala.
Além disso, o controle acústico em construções de madeira pode ser mais complexo, exigindo soluções específicas para evitar que o som se propague de forma inadequada. Outro ponto que ainda gera debates é o custo inicial dessas construções, que, em alguns mercados, pode ser mais elevado devido à produção em menor escala e à expertise limitada dos profissionais.
A crescente adoção da madeira na construção civil brasileira reflete uma tendência global, com projetos em países desenvolvidos liderando essa transformação. Durante as Olimpíadas de Paris, por exemplo, a madeira esteve em evidência em várias construções, sendo um símbolo das mudanças no setor de construção civil em resposta às demandas ambientais. Na Europa, Oceania e América do Norte, muitos projetos têm apostado na madeira como material de escolha para construções neutras em carbono, e no Brasil essa tendência começa a ganhar força, principalmente em São Paulo, onde uma série de novos projetos tem sido anunciada.
São Paulo, terra da madeira
Em São Paulo, mais especificamente no entorno da Faria Lima, polo financeiro da cidade, já estão em andamento ao menos seis projetos de edifícios em madeira. Um exemplo é a loja conceito da Dengo, no bairro de Pinheiros, que foi a primeira construção desse tipo na região. Esse movimento reflete a busca por soluções arquitetônicas que tragam a natureza de volta para o ambiente urbano, promovendo o bem-estar e a sustentabilidade. O mercado brasileiro está passando por um processo de “aculturamento” em relação ao uso da madeira, com cada novo projeto ajudando a reduzir o medo e a desconfiança que ainda existem.
O conceito de edifícios de madeira vai além da questão estética ou ambiental. Ele está profundamente ligado ao conceito de biofilia, que promove uma reconexão entre os seres humanos e a natureza. A madeira oferece uma sensação de calor e aconchego que muitos outros materiais não conseguem replicar, o que contribui para o bem-estar psicológico dos ocupantes. Em ambientes corporativos, por exemplo, esse fator pode ser decisivo para aumentar o conforto e a produtividade dos funcionários.
Contudo, a madeira ainda não é vista como uma solução universal para todos os tipos de construções. Embora ela seja uma excelente alternativa para edifícios de até certa altura, como os “boutique offices” da Noah Tech Brasil, construções muito altas ainda apresentam desafios técnicos, exigindo um grande volume de madeira para atingir a resistência necessária. Isso levanta a questão de até que ponto a madeira pode substituir o concreto e o aço em projetos mais complexos, como arranha-céus.
Além disso, há o risco do greenwashing, termo usado para descrever práticas que se promovem como sustentáveis, mas que, na realidade, não trazem benefícios ambientais significativos. Um estudo do instituto WRI alerta para o fato de que a madeira industrializada, por si só, pode não ser tão “carbono neutra” quanto se costuma calcular, principalmente se a produção de madeira competir com outras necessidades essenciais, como a recuperação de biomas e a produção alimentar.
A construção em madeira está em plena ascensão, tanto no Brasil quanto no mundo, impulsionada por suas vantagens ambientais, estéticas e práticas. No entanto, ainda há desafios a serem superados, tanto em termos de percepção pública quanto de regulamentação e custo. À medida que a tecnologia avança e o mercado se adapta, é provável que a madeira ganhe ainda mais espaço na arquitetura contemporânea, transformando não apenas a paisagem urbana, mas também nossa relação com o ambiente construído e com a natureza.