Search
Close this search box.

A enigmática obra de Alex Červený ganha destaque em exposição individual em SP

Redação Culturize-se

Alex Červený, nascido em São Paulo em 1963, é um dos artistas plásticos brasileiros mais destacados por sua capacidade de construir universos visuais complexos e narrativos. Sua obra transita entre a pintura, o desenho e a gravura, sempre marcada por um detalhismo minucioso e pela exploração de temas como o fantástico, o onírico e o mitológico. Sua exposição individual “Orbis sensualium pictus”, na Galeria Millan, em São Paulo, com curadoria de Ivo Mesquita, traz à tona mais de vinte pinturas recentes e aquarelas, reafirmando sua habilidade de criar narrativas que refletem a condição humana e suas interações com o meio ambiente e outros seres.

Obra de Alex Cerveny

“Orbis sensualium pictus”, cujo título foi inspirado por um livro didático do século XVII traduzido como “O mundo sensível em imagens”, é uma das primeiras exposições de Červený a focar exclusivamente na pintura sobre tela. Com obras que vão desde pequenos formatos até telas monumentais, como As Lusíadas (2024), que mede 270 x 400 cm, a exposição revela a riqueza narrativa que é característica de seu trabalho. Červený combina referências da literatura, música e memórias pessoais, criando cenas povoadas por personagens e textos que, ao serem exibidas juntas, formam novas histórias.

O curador Ivo Mesquita destaca que a obra de Červený é permeada por mitos, heróis, criaturas míticas e referências culturais. Ao longo de sua carreira, o artista vem construindo um repertório visual que mistura o antigo e o contemporâneo de maneira singular. Seu processo criativo é muitas vezes lento e meticuloso, com algumas obras levando anos para serem finalizadas, como Born This Way (2019–2024). Para Červený, o processo é tão importante quanto o produto final, e ele frequentemente revisita suas criações após meses ou anos, enriquecendo ainda mais o significado de suas peças.

A formação de Alex Červený teve início na Escola de Arte Brasil, onde ele desenvolveu suas habilidades em desenho e gravura. Essas duas técnicas continuam a ser elementos fundamentais em sua prática artística, mesmo com a expansão para a pintura em grandes formatos. Červený foi influenciado por grandes mestres da arte, como Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel, cujos trabalhos igualmente transbordam de mundos cheios de significados simbólicos. Essa influência pode ser vista na complexidade visual e narrativa de suas obras, onde o espectador é convidado a mergulhar em histórias que se desenrolam lentamente, revelando novas camadas de interpretação.

Entre a técnica e o imaginário

O detalhismo técnico de Červený é evidente em suas aquarelas, que se destacam pela delicadeza e precisão das pinceladas. Ele explora a transparência e a fluidez da tinta para criar paisagens e figuras que parecem suspensas entre o real e o imaginário. Na gravura, seu rigor técnico é igualmente impressionante, mostrando sua maestria no uso da linha e da textura para dar vida a suas criações. O uso de figuras híbridas — que misturam características de seres humanos, animais e objetos — é uma marca registrada de sua obra, refletindo o ponto de encontro entre o natural e o sobrenatural, entre o real e o mítico.

Červený também é profundamente influenciado por suas viagens, tanto físicas quanto imaginárias. Lugares como a Amazônia, o Caribe e a África inspiraram algumas de suas composições mais emblemáticas. Contudo, esses locais não são retratados de forma literal, mas transformados em cenários de narrativas fantásticas, onde a natureza, os seres humanos e criaturas imaginárias coexistem em um mundo vibrante e enigmático. A viagem, para Červený, é uma forma de explorar a alteridade e refletir sobre as questões de identidade, pertencimento e relação com o outro.

Em sua obra recente, esse sentido de introspecção se torna ainda mais evidente. Segundo Ivo Mesquita, há uma mudança perceptível na atmosfera das pinturas de Červený, que agora parecem imersas em um tempo suspenso, com um olhar mais reflexivo e contemplativo sobre o estado do mundo e a condição humana. Esse sentimento é particularmente notável em obras como Náufrago (2023–2024), que retrata um homem isolado em uma ilha, uma imagem que pode ser lida tanto como uma metáfora para a solidão quanto como um comentário sobre os desafios ambientais e territoriais que a humanidade enfrenta.

Além de seu trabalho visual, Červený mantém uma relação estreita com a literatura. Muitos de seus desenhos e pinturas acompanham textos literários ou poéticos, e suas imagens frequentemente evocam histórias que convidam o espectador a criar suas próprias narrativas. A fusão entre texto e imagem é uma característica central de sua obra, demonstrando sua habilidade em transitar entre diferentes formas de expressão artística.

A trajetória de Alex Červený é marcada por inúmeras exposições no Brasil e no exterior, incluindo participações na Bienal de São Paulo e mostras em importantes instituições internacionais. Seu trabalho é amplamente reconhecido pela crítica e pelo público, e sua capacidade de evocar o fantástico e o simbólico continua a intrigar e cativar aqueles que entram em contato com suas criações. A obra de Červený é, em última análise, uma celebração da imaginação, um convite para explorar mundos que desafiam as convenções da realidade, oferecendo uma visão poética e encantadora da existência humana.

Deixe um comentário

Posts Recentes