Reinaldo Glioche
Richard Gere, que completou 75 anos no fim de agosto, é daqueles ótimos atores que jamais foram indicados ao Oscar. Chegou perto em 2003, pelo musical “Chicago”, mas acabou esnobado. Astro nos anos 90, quando estrelou sucessos como “Uma Linda Mulher” e viveu um casamento midiático com a top model Cindy Crawford, Gere aos poucos foi se retirando dos holofotes.
Adepto do budismo, Gere foi concentrando suas escolhas em projetos menores que diminuíam sua exposição a Hollywood, ao passo que sua presença trazia relevância e curiosidade por filmes como “O Jantar” (2017) e “Três Cristos” (2017). Seu ritmo também diminuiu e nos últimos dez anos foram apenas 9 projetos. Dois deles lançados nesse ano de 2024. O primeiro “Oh, Canada”, que o reúne a Paul Schrader, seu diretor em “Gigolô Americano” (1980), lançado no Festival de Cannes e “Longing”, refilmagem de um drama israelense escrita e dirigida por Savi Gabizon, autor do original. Ambos ainda não têm previsão de estreia no Brasil.
O que chama atenção nos projetos é a disposição dramatúrgica de revisitar o passado, de recompor a memória. São filmes em que os personagens defendidos por Gere se embrenham no que poderia ter sido para fazer as pazes com o que foi.
Em “Longing”, especialmente, a visita do passado se mostra desafiadora. Seu personagem, um empresário rico, descobre que tinha um filho quando da morte deste. Ele parte para a cidade em que o rapaz morava para o funeral e sepultamento e por lá vai ficando instigado pela curiosidade de saber quem era seu filho. Suas paixões, inseguranças e vocações. É um filme muito bonito e sensível e no qual Gere parece emocionalmente investido em um tom acima do verificado em suas últimas aparições no cinema.