Redação Culturize-se
A teologia da prosperidade é um conceito religioso que surgiu no contexto do cristianismo pentecostal e neopentecostal, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, nos Estados Unidos. Sua principal premissa é a de que a fé e as doações financeiras a igrejas ou líderes religiosos conduzem a recompensas materiais e à prosperidade financeira, além de bênçãos espirituais e de saúde. Essa doutrina, que difere significativamente das tradições cristãs mais históricas, como o catolicismo e o protestantismo clássico, ganhou popularidade no Brasil e em outros países da América Latina ao longo das últimas décadas.
Entre os principais teóricos que abordam a teologia da prosperidade estão o cientista político estadunidense David Martin, que analisou o crescimento do pentecostalismo e do neopentecostalismo em seu livro “Tongues of Fire: The Explosion of Protestantism in Latin America” (1990). Martin destaca que o crescimento dessas igrejas na América Latina foi acompanhado pela promessa de prosperidade material, uma mensagem que atraiu especialmente os setores mais pobres da população. Outro autor relevante é Paul Freston, cientista político e sociólogo inglês naturalizado brasileiro, que em suas obras sobre o neopentecostalismo no Brasil, como “Evangelicals and Politics in Asia, Africa and Latin America” (2001), descreve a maneira como a teologia da prosperidade se entrelaça com questões políticas e econômicas, moldando tanto a fé quanto o comportamento social.
A crítica a essa doutrina, em termos teológicos, foi realizada por R. Scott Appleby e Martin Marty, que em “The Fundamentalism Project” (1991) argumentam que a teologia da prosperidade oferece uma visão utilitarista da fé cristã, associando-a exclusivamente a benefícios materiais e criando uma teologia de mercado que responde aos anseios de consumo da modernidade.
Além disso, a teologia da prosperidade tem sido examinada do ponto de vista da sociologia da religião, como no trabalho do sociólogo francês Olivier Roy. Em seu livro “Holy Ignorance: When Religion and Culture Part Ways” (2010), Roy observa que esse fenômeno reflete a globalização da religião e a adaptação de igrejas evangélicas a um contexto de capitalismo avançado, no qual o sucesso material e o individualismo se tornam elementos centrais da prática religiosa.
Na visão do filósofo Harvey Cox, em seu livro “Fire from Heaven: The Rise of Pentecostal Spirituality and the Reshaping of Religion in the Twenty-first Century” (1995), a teologia da prosperidade é uma forma de resposta ao desespero econômico e à exclusão social enfrentada por muitos fiéis. Para Cox, a promessa de prosperidade material oferece uma narrativa de empoderamento individual, conectando a fé diretamente ao sucesso no mundo secular.
Críticos da teologia da prosperidade, como Stephen Hunt, em “The Alpha Enterprise: Evangelism in a Post-Christian Era” (2004), argumentam que a doutrina muitas vezes coloca o peso do fracasso nas costas dos indivíduos. Se não alcançam a prosperidade, isso seria atribuído à falta de fé ou à falta de doação financeira, criando um ciclo de frustração e culpa.
A teologia da prosperidade também tem implicações políticas, pois, em muitos contextos, líderes religiosos associados a essa doutrina estabelecem relações próximas com governos e elites políticas. No Brasil, o crescimento de igrejas neopentecostais que pregam a prosperidade tem sido acompanhado por uma crescente influência política de seus líderes, como o pastor Silas Malafaia. O voto evangélico tem sido alvo de disputa mesmo entre setores da direita e a a teologia da prosperidade tem servido como baliza.
O cientista político Ricardo Mariano destaca que a teologia da prosperidade muitas vezes reforça uma ética neoliberal, que naturaliza a desigualdade social e coloca a responsabilidade pela ascensão econômica exclusivamente nos indivíduos, desconectada de fatores estruturais mais amplos. Como se pode observar, esse fenômeno vai além da esfera religiosa, tendo impactos econômicos, sociais e políticos.